quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Questões desenvolvidas pelos alunos relacionadas aos textos:

CHAKA, C. From CMC Technologies to Social Participation Technologies.

TAIWO, Rotimi. Handbook of Research on Discourse Behavior and Digital Communication - Language Structures and Social Interaction. IGI Global, New York, 2010. (p. 627 - 641)

> Uma pesquisa recente, publicada no mês de novembro deste ano, revisou a noção dos six degrees of separation, publicada originalmente em 1967. O novo estudo realizado pela Universidade de Milão apoiou-se sobre as redes de contato formatadas através de perfis no SRS Facebook e propôs que o número médio de pessoas que separam outras duas é de 4.74. O Facebook afirma ter atualmente um número aproximado de 800 milhões de usuários cadastrados. A tendência é que com o aumento do número de usuários, a noção de separação entre dois indivíduos diminua. A pesquisa da universidade italiana reflete diretamente na ideia de audiência imaginada e, além disso, transforma o modo como podemos pensar os discursos produzidos e distribuídos digitalmente?

> A dimensão social da computação e a noção de tecnologia de participação social trouxeram mudanças de paradigma na experiência de muitos indivíduos do uso do computador. Evoluímos da uma metáfora de "ferramenta" para de "lugar". Como essa noção influencia a atitude e a motivação de indivíduos para a utilização de tecnologias digitais conectadas - e consequentemente suas finalidades?

> A ideia dos autores Jukes e Dosaj (2006) de que a linguagem digital será a primeira língua do sujeito é factível? Como fica o processo de hominização e socialização que se dá através de um outro na inevitável interação face-a-face, segundo as teorias psicológicas?


> Qual o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem do aluno diante da OSL?


> Considerando que a memória não mediada é sempre reconfigurada a cada "lembrança" e em cada contexto, parece que o registro detalhado e tão amplo quanto o do Lifelogging traz à tona um tipo de memória mais estável e menos sujeita às reconstruções influenciadas por desejos, fantasias, traumas e emoções? O que diria um psicanalista sobre a dinâmica pulsante e complexa de "gerenciamento" dos afetos associados às nossas experiências passadas de vida quando boa parte das impressões e do contexto destas experiências está registrada de forma literal? Qual espaço para o direito ao esquecimento e ao anonimato?


> A capacidade de gerenciamento das impressões não seria menor quando o controle sobre o contexto escapa ao lifelogger. ex: se a situação a ser esquecida ocorre entre um grupo no qual a pessoa é discriminada ou nova: as informações de contexto serão limitadas e as inferências a partir dele também, mesmo que seja um pedaço concreto da realidade vivida?


> Será mesmo que a expectativa de privacidade irá guiar o uso do lifelogger ao invés dele ser mais um elemento que fará diminuir nossa expectativa de privacidade como já fazem as redes sociais?


> Parece haver uma contradição bastante recorrente neste contexto de reflexão sobre ambientes digitais: os dois autores destacam a importância do acesso aos registros para empoderar os usuários e dar maior transparência ao processo de monitoramento da privacidade. Mas a citada democratização da vigilância e a radical mudança nas noções de público e privado nos fazem pensar: não seria este empoderamento posterior um paliativo já que os usuários efetivamente gerenciam e exercem seu poder no momento anterior à decisão de publicar isto ou aquilo e ao aceitar os termos de uso dos serviços e ambientes digitais que freqüentará? O argumento do empoderamento é verdadeiro, mas ao entregar o poder de uso das informações pessoais também à terceiros, este poder passaria a ser compartilhado e não mais exclusivo para o gerenciamento das informações? E neste jogo de poder, qual espaço para o desvio e escape que sobra ao usuário que deseje se reinventar socialmente on e off line? Parece que a questão da confiança e da confiabilidade que os usuários atribuem aos provedores de serviços merece uma atenção especial na reflexão sobre o grau de consciência e de empoderamento no gerenciamento das informações pessoais.


> Considerando a MNL e o caráter cada vez mais híbrido dos discursos e das SPT, seria o desafio das familias e das escolas a educação para compreender e produzir sentido crítico ao invés de transmissão de conteúdo? uma vez que os conteúdos simplesmente estão disponíveis em variadas formas, seria o desafio criar e consolidar valores éticos que permitam uma participação e um engajamento o mais equilibrado e sustentável quanto possível? Me parece que neste ponto a educação em direitos humanos e a filosofia mereceriam uma atenção mais especial, no momento mesmo em que a racionalidade e o utilitarismo triunfam. Parece idealista e ingênuo (e talvez realmente seja), mas vale questionar que tipo de participação hoje é potencializada com as SPT, com base em quais acordos sociais e valores coletivos? Da mesma forma que no debate sobre a democratização da vigilância, precisamos refletir que tipo de sociedade o atual modelo de participação tem produzido e potencializado, já que podemos tanto participar (individual e coletivamente) de processos de emancipação quanto aprisionamento.


> Como podemos, em pesquisas nesta área, investigar a mutua influência das condições técnicas e da dinâmica social nas SPT. Sabendo que ambos mudam muito rapidamente e simultaneamente (as tecnologias e a dinâmica de seu uso), será que as caracteristicas apontadas sobre os NML se tornarão hegemônicas mesmo com tamanha distância das escolas, dos pais e de políticas públicas? Dito de forma mais direta, será que este potencial trazido pelas SPT será a tempo atualizado em práticas sociais mais gerais? Ou a transparência das tecnologias embutidas em nossas vidas se consolidará antes mesmo de modificar tão radicalmente a ordem social, assentando as tecnologias num modelo societal com parâmetros e ciências ainda tradicionais, lineares, monotarefa e pouco receptivos ao híbrido como status legitimo das coisas, pessoas e contextos?


> As questões sobre o aprendizado digital socializado, emergem juntamente considerando o aumento do número de pessoas utilizando os meios de comunicação (SPT) on-line sincrônicos ou assíncronos. Nestes termos, quais as providências cabíveis às escolas, e quais as medidas governamentais quanto as políticas públicas da educação que se farão necessárias, no sentido de implantar, acompanhar e promover e avaliar o fluxo deste conhecimento construído e compartilhado (OSL)? E como desenvolver as estratégias pedagógicas para lidar com este novo tipo de estudante?


> A utilização da internet (e dos apetrechos digitais) para a busca e compartilhamento de informações sobre o conhecimento humano, passado e atual, está definitivamente implantada na vida cotidiana atual. Como o modelo de educação da matriz familiar poderá ser afetado ou deverá ser adaptado considerando os aprendizes do novo milênio (NML)?


> De que forma as novas tecnologias (redes e arquiteturas) podem favorecer a aprendizagem socializada online?


> É possível prever em que níveis de convergência no universo offline, serão mais intensamente afetados com a aprendizagem socializada online?


> As SPTs podem ajudar as pessoas a se sentirem mais valorizadas quanto ao seus múltiplos conhecimentos, uma vez que há maior possibilidade de ganhar sensação de relevância e feedback positivo por existir um alcance facilitado a audiências interessadas?


> Será realmente que a fase da web 3.0 é baseada em colaboração, uma vez que a auto-exibição e publicização de si ganha tanto espaço nos SRS?


> Segundo Chaka, a capacidade de convergência do Facebook, enquanto multi-contexto, com múltiplas possibilidades, o transforma em palco de novas formas de interação social. Em que medida as formas de interações ali vivenciadas são, efetivamente, novas?


> Chaka pontua que discursos digitais são aqueles que pertencem às tecnologias de participação social (SPT). Nesse sentido, Chaka afirma que as SPT alteraram as clássicas concepções de discurso, criando uma plataforma de transformação deste. Simultaneamente, as SPT fazem surgir novas formas de expressão e de interação social. Como reflexão, propomos: o que pode ser considerado “novo” no discurso digital, nas expressões e interações sociais, neste cenário das tecnologias de participação social?


> A convergência de aplicativos, a atenção dividida por múltiplas fontes, domínio de múltiplas linguagens: o hibridismo vai além da simples convergência de dispositivos, e com isso, estaria desenvolvendo um indivíduo hibrido também?


> Egonomy, seria o fascínio dos usuários com eles mesmos e com os outros; esse encantamento não seria de certa forma bastante frágil, já que as redes sociais funcionam como vitrines virtuais de "personagens" criados pelos indivíduos para mostrar aos outros (e a si) quem eles são?


> Poderia haver, de fato, aprendizagens com a atenção tão dissipada entre as múltiplas fontes de multimídia?


> A participação social enquanto estruturadora de interações e comunicações transforma o discurso (essa ideia concebe um discurso como referência) ou configura um específico (essa ideia concebe o surgimento de um discurso) ?


> Um discurso híbrido é um discurso composto por partes que viram um ou um um que não pode ser compreendido enquanto totalidade?


> É possível observar formas de expressão e interações sociais no discurso digital para fenômenos ilícitos?

Questões desenvolvidas pelos alunos relacionadas aos textos:

D’AQUIN, Mathieu; ELAHI, Salman; MOTTA, Enrico. Personal Monitoring of Web Information Exchange: Toward Web Lifelogging. Web Science Conf. 2010, Raleigh, USA, 2010 (p. 1 - 7)

O’HARA, Kieron; TUFFIELD, Mischa; SHADBOLD, Nigel. Lifelogging: Privacy and Empowerment with Memories for Life. 2008. Online: disponível em http:// www.springerlink.com/content /r273l7321v8h85t7/

> Os algoritmos de sites de busca na web são escritos com intenção de armazenar o histórico de pesquisa de um usuário em seu sistema. No momento de uma nova busca, o sistema do site recupera esse histórico e, somando-se outros dados recolhidos do usuário que está pesquisando (como localização física e conteúdos compartilhados em sites de rede social), define a hierarquia de apresentação dos resultados. Esse resgate automático das informações sociais de um usuário interfere diretamente nos rastros que ele deixará pela web. A existência desses filtros também pode interferir no modo como um indivíduo interage na web?

> Alguns cibermeios estão adotando a prática de, automaticamente, compartilhar conteúdos lidos por usuários no perfil do próprio usuário leitor. Basta que essa leitura seja feita dentro do sistema do Facebook com o usuário “logado” no sistema. Enquanto navega pela página, o site grava a trajetória de leitura e compartilha os rastros no mural do usuário leitor. Se o usuário está ciente sobre essa prática, isso altera o modo como ele irá interagir com o cibermeio (escolhendo que tipo de matérias ler)? Essa prática pode ser considerada um espécie de lifelogging?

> O texto sobre lifelogging comenta sobre a "presença pública online", seria possível uma "ausência pública online"? Uma vez "presente", seria possível se tornar ausente? Se as informações deletadas, não são de fato 'excluídas'; se outros podem salvar algumas informações, existiria algum tipo de controle?


> Existe alguma possibilidade de anonimato atualmente? Se mesmo sem "participar" de redes sociais, o indivíduo está suscetível a aparecer em fotos e comentários de terceiros.


> Saber que existe a possibilidade de resgatar as informações de si próprio através de aplicativos instalados para monitoramento de atividades no próprio computador do usuário, poderia incentivar um falso ou seletivo movimento durante a coleta de dados para uma determinada situação ?


> Considerando que o aplicativo Lifelogging permite a construção de uma memória seletiva, a veracidade da construção da identidade online pode ser considerada comprometida ou parcial?


> O uso de tecnologias de lifelogging, ao reunir informações de modo objetivo sobre o indivíduo pode influenciar a concepção de identidade coerente? Se os indivíduos, de fato, necessariamente passam por diversas fases ao longo da vida, o registro realizado por tecnologias digitais pode permitir um confronto com ações e auto-apresentações passadas?


> A manutenção do anonimato no processo de busca por informações nos sites de relacionamento e o uso de canais de busca menos identificáveis, isso, de fato, pode influenciar no processo de redução de incerteza sobre outras pessoas? Ou se trata de uma "promessa"?

> Quais as possíveis consequências no gerenciamento das impressões "face-a-face" decorrentes da busca por informações através dos sites de relacionamento?


> O’HARA, TUFFIELD e SHADBOLD, afirmam, no artigo em questão, que se torna claro, particularmente para o conceito de privacidade como uma condição de acesso restrito às informações sobre uma pessoa (Allen, 1998), que a verdade Durkheimiana - que é geralmente exibida nas redes sociais e particularmente no “social lifelogging” – ameaçará a privacidade. Nesse sentido, problematizamos: que privacidade é essa que ainda pode ser considerada, no contexto das interações digitais, especialmente a partir da discussão acerca do lifelogging? Mesmo os conceitos utilizados pelos autores não precisariam ser repensados?

> No mesmo artigo, os autores afirmam que o surgimento das redes sociais pode ter minimizado o caráter instrumental da “verdade”. Dessa forma, questionamos: o que pode ser considerado como “verdade” em ambientes digitais – seja ela a verdade Weberiana ou a Durkheimiana?



quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

FICHAMENTO - Sociology in the Age of Internet (2007)

CAVANAGH, Allison. Sociology in the Age of Internet. Open University Press – McGraw-Hill
Education, 2007. (p. 120 - 131)


POR RODRIGO NEJM

Sobre a Autora:

Allison CAVANAGH é professora na área de Estudos em Comunicação na Universidade de Leeds, Inglaterra. Suas pesquisas estão ligadas às transformações sociais relacionadas às novas tecnologias de comunicação.

Objetivos: O capítulo introduz e examina teorias da cibercultura em torno da formação da identidade e aponta que há equivocadas tanto em termos epistemológicos quanto empíricos nestas abordagens pós-modernas. Partindo dos estudos de Sherry Turkle e de Mark Poster a autora faz análises da noção de subjetividade online vista em termos do projeto pós-moderno de auto-realização (self-realization), uma realização supostamente livre das limitações impostas pela ordem social off-line e que concebem o self como múltiplo, transitório e em constante desenvolvimento. Para a autora, ambas concepções (de Turkle e Poster) vêm a identidade como sinônimo de subjetividade e possuem uma rejeição à noção de self coerente prévio. Neste capítulo a autora desenvolve argumentos para sustentar 2 críticas a ambas abordagens: a primeira diz respeito à forma como estas abordagens se enquadram diante da realidade empírica da Internet. A segunda está relacionada à inconsistências teóricas e contradições epistemológicas nas leituras que estas abordagens pós-modernas fazem das identidades online.

Argumentação Central:

A autora inicia apontando alguns argumentos sobre a formação da identidade online pelo olhar e Sherry Turkle que se tornaram emblemáticos com os estudos baseados nos usuários dos MUD. Para Turkle, a “computação subjetiva” muda a forma como as pessoas pensam e o self online seria cada vez mais múltiplo, transitório e em constante processo desenvolvimento ao invés de um self individual estático. A segunda posição a ser analisada pela autora no capítulo é a de Mark Poster, autor que apesar de concordar com Turkle em alguns pontos, apresenta algumas diferenças em seus argumentos. Poster também compartilha da noção de identidade online como resultado do processo de construção online ao invés de conceber a uma identidade essencial pré-definida que “entra” na Internet e sobre os efeitos das relações no ciberespaço, mas, diferentemente do voluntarismo de Turkle, argumenta que o indivíduo é fruto das interações que ocorrem na linguagem e na ação. Em sua abordagem Poster destaca que as identidade não são construídas como atos de pura consciência.

Teoria da realidade: selfs pós-modernos online

A autora inicia fazendo uma objeção à concepção pós-moderna que aponta que a internet demanda ou causa a desconstrução do self, o tornando múltiplo. Cavanagh argumenta que os estudos de Turkle e de Poster foram baseados nas primeiras experiência dos MUDs e seus usuários, o que não poderia ser generalizado para os ambientes e características centrais da internet na atualidade. O perfil dos usuários e as formas de sociabilidade típicas dos MUDs não mais corresponderiam à realidade das redes sociais à dinâmica atual da internet que parece, segunda a autora, retomar a necessidade de identidades estáveis.

A necessidade de conquistar a confiança dos usuários em meio à tantas fraudes e potencial liberdade para as enganações mobilizou a parte comercial da internet na busca de respostas. Neste cenário a identidade pode ser vista como princípio central, a exemplo dos “sistemas de reputação” implementados pelos sites de compras online para garantir maior confiabilidade e que se tornaram usais em diferentes serviços na internet. Usando pesquisas de Resnick (2000), a autora argumenta como estes sistemas de reputação atuam tanto como meios de controle social quanto como poderosos incentivadores do desenvolvimento e manutenção de determinado tipo de identidade. Neste contexto, a necessidade de desenvolver uma reputação também produz ressonâncias nas comunidades online menos formais e condicionam o desenvolvimento de identidades mais coerentes.

Outro ponto destacado pela autora é o fato de que por mais que haja liberdade, os usuários produzem conteúdos e interagem com base em uma audiência, por mais dispersos que sejam os limites entre produtores e consumidores. Para conquistar e manter a audiência o self que apresentamos online precisa ser inteligível para esta audiência e exige certa coerência. Diferentemente do argumento de Turkle que apontava a fluidez das identidades online como fruto das conexões em rede estabelecidas nos diferentes grupos de interesse, Cavanagh argumenta que as evidências de pesquisas sobre dinâmicas de grupos sociais não sustentam as afirmações de Turkle.

Ao contrário do que supunha Turkle, as pesquisas apontam que a apresentação do self não segue a fluidez das associações online, mas sim as associações que seguem a apresentação do self. A autora destaca ainda como a internet tem se tornado um espaço para o voyeurismo, uma vez que exige-se cada vez maior exposição do self para conquistar a visibilidade e validação que podem manter e ampliar as audiências. Recuperando as críticas pós-modernas relativas ao culto às celebridades e à gradativa privatização do público e a publicização da vida privada, a autora aponta que a internet seria mais uma das tecnologias que alimenta e está amarrada ao processo de individualização típico do capitalismo tardio. A autora identifica aqui um conflito ao considerar que os teóricos pós-modernos apontam ao mesmo tempo para a realização do self como refúgio do mundo sem meta-narrativas e consideram o atual processo de publicização das vidas privadas como uma aniquilação do self a favor das demandas do capitalismo. Ela vê como inconsistente a argumentação que vê no mesmo processo um ponto de fuga e a aniquilação no self. Feita esta consideração, Cavanagh parte para a sua segunda crítica às concepções de identidade na visão da cibercultura, especificamente a incompatibilidade epistemológica.

A realidade da teoria

Considerando que as teorias na cibercultura consideram o self e a identidade como produtos da vida interna dos indivíduos, Cavanagh aponta críticas a estas derivações da psicanálise clássica que tem a realização do self como o objetivo final, realização sinônimo de autonomia e esclarecimento. A autora aponta que Turkle faz uma apropriação seletiva da noção de autonomia do self, invertendo a concepção psicanalítica original que prevê a autonomia do self como base para a criação de vínculos e estabelecimento de relações significativas entre os membros da comunidade.

Outro ponto questionado no texto diz respeito ao afastamento que tanto Turkle quanto Poster fazem das principais correntes teóricas relativas à concepção do self. Se os teóricos da cibercultura destacam a inovação de suas abordagens ao considerar a multiplicidade do self e a radical diferença entre o self e identidade on e off-line, a autora questiona esta inovação, primeiramente afirmando que a noção de multiplicidade do self carece de evidencia empírica e é sociologicamente duvidosa. Cavanagh cita a conhecida frase de Marx “a vida não é determinada pela consciência mas a consciência pela vida” (Marx and Engels 1970).

O segundo ponto questionado é a suposta descontinuidade radical entre a internet a realidade off-line. Recuperando as diferenciações sobre self e “apresentação do self” nas obras de Goffman a autora destaca a necessidade de percebermos estas diferenças tanto para entender as formas de apresentação do self na internet quanto para evitar equívocos nas interpretações sobre o gerenciamento de impressões na perspectiva de Goffman. Para Goffman a apresentação do self não seria voluntária como prevem os teóricos da cibercultura, mas as formas possíveis de apresentação do self, apesar de serem estrategicamente eleitas, são predominantemente determinadas pela ordem social. Nas interações online, inclusive, são as normas sociais prevalecem na configuração das interações sociais de maneira muito real e não simples jogos como indicado pelos teóricos da cibercultura. Ao sobrevalorizar os limites da moral, estes teóricos que rejeitam o self estável ignoram o caráter agregador das normas sociais.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Questões desenvolvidas pelos alunos relacionadas aos textos:

RAMIREZ, A.; WALTHER, J.; BURGOON, J.; SUNNAFRANK, M.. Information-Seeking Strategies, Uncertainty, and Computer-Mediated Communication. In Human Communication Research, 28, 2002. (p. 213 – 228)

WESTERMAN, David; HEIDE, Brandon; KLEIN, Katherine; WALTHER, Joseph. How do people really seek information about others?: Information seeking across Internet and traditional communication channels. Journal of Computer-Mediated Communication, v.13, 2008 (p.751- 767).


> De que maneira os aplicativos que tem como objetivo resgatar as informações ou os rastros de um ator social que age na internet e que, de certo modo, auxiliam na produção da auto-apresentação atuam na construção (e até mesmo na reconstrução) do self?

> O site de rede social Facebook lançou recentemente o serviço chamado Timeline. Nele é possível resgatar informações sobre si e outros depositadas nas bases de dados do site com mais facilidade. Porém, o sistema do Facebook permite que se altere ações passadas, mudando, adicionando e apagando conteúdos. Essa possibilidade de "gerenciamento do passado" interfere de que maneira na constituição do self?

> Qual a relação entre URT e o gerenciamento de impressão?


> Quais as diferenças entre ICT, SIDE e SIPT?


> O texto "How do people really seek information about others?" afirma que as buscas por informações sobre os outros influenciam na formação da impressão e no desenvolvimento das relações. Mas, o quão válidas/verdadeiras são informações encontradas na internet sobre os indivíduos?

> bancar um "web detetive" poderia prejudicar a interação FtF? Na internet haveria limites que diferenciariam curiosidade de obsessão? O que caracterizaria um "uso excessivo" de busca de informações sobre os outros? Com isso, ficou mais difícil mentir? ou ficou mais fácil descobrir mentiras/ confirmar verdades?


> Entendendo o momento de “busca de informações” sobre o “outro-alvo” como um aspecto do processo de interação, como explicam Ramirez, Walther, Burgoon e Sunnafrank (2002), então a questão do anonimato merece ser problematizada, no cenário das interações online. Numa primeira fase (a de buscar informações), conforme afirmam Heide, Westerman, Klein e Walther (2008), os indivíduos optam pela não revelação das suas ações de busca – ou seja, preferem ficar anônimos. Já em outros momentos da interação – o de aproximação inicial, por exemplo -, a proposta é exatamente a de deixar o anonimato de lado e se mostrar/apresentar, tanto através de fotos, textos ou de comentários de amigos intencionalmente deixados no “mural”, como uma forma de gerenciamento de impressão. Tendo em vista os dois artigos, questionamos: a importância do anonimato, então, é relativizada, assumindo graus variados, em momentos distintos da interação entre duas partes, a depender do interesse dos interagentes, em cenários digitais/online?


> Ramirez, Walther, Burgoon e Sunnafrank (2002) propõem que as estratégias de “busca de informações” chamadas de extractive strategies representam uma manifestação típica do contexto digital, indisponíveis para as comunicações face a face. Para ilustrar, os autores citam mensagens e arquivos disponíveis em newsgroups e a busca eletrônica por publicações acerca do “outro-alvo”. Nesse sentido, questionamos: seria essa estratégia, de fato, uma particularidade das interações online ou apenas assumiram outros formatos, passando, portanto, por uma ressignificação?


> Autores clássicos interacionistas, como Goffman, atribuem uma importância muito grande aos aspectos relacionados ao comportamento numa interação face a face. Práticas de deferência e porte, por exemplo, precisam ser institucionalizadas para que o indivíduo consiga projetar um eu sagrado viável, e permanecer no jogo numa base ritual apropriada, segundo afirma o autor. Na perspecitva da comunicação mediada por computador, como essas práticas de cunho essencialmente comportamental podem ser identificadas a partir das pistas sociais estabelecidas em ambientes digitais? Como o "comportamento" é projetado nestes ambientes e de que forma é possível mensurá-los ou categorizá-los?


> Admitindo que tecnologias oferecem tipos distintos de interações mediadas – sugerindo ao usuário sensação de naturalidade, imediatismo, realidade, de estar junto com outro, é possível considerar que a depender dos objetivos sociais envolvidos, do tipo de tecnologia e do nível de interação estabelecido, teremos experiências distintas, ainda que utilizemos as mesmas estratégias para a busca de Informações?

> Recursos de comunicação síncrona e assíncrona seriam bons exemplos para um estudo comparativo de pistas sociais a partir do Modelo Conceitual de Busca por Informação Social na CMC e Novas Mídias?


> Trazendo a proposta do modelo conceitual de para a atualidade, poderíamos arriscar dizer que os algoritmos de pesquisa tem avançado ao ponto de influenciar significativamente nos fatores ligados ao comunicador (suas preferências, histórico, habilidades), bem com incidem produzindo contextos diferenciados para cada sujeito? O atual modelo dos buscadores embutidos em diferentes ambientes digitais seriam híbridos que agrupam e disponibilizam estratégias ao mesmo tempo ativas, passivas, "extrativas" e interativas?

FICHAMENTO - How do people really seek information about others?: Information seeking across Internet and traditional communication channels. (2008)

WESTERMAN, David; HEIDE, Brandon; KLEIN, Katherine; WALTHER, Joseph. How do people really seek information about others?: Information seeking across Internet and traditional communication channels. Journal of Computer-Mediated Communication, v.13, 2008 (p.751- 767).


POR ZÉLIA QUADROS



Sobre os autores:

DAVID WESTERMAN é Professor Assistente Ph.D., na Universidade Estadual de Michigan-Ma (USA). Especializações: Comunicação de Massa, Comunicação Mediada por Computador.

BRANDON VAN DER HEIDE é professor assistente na Escola de Comunicação na Universidade Estadual de Ohio. Seu maior interesse é o estudo de como as tecnologias de comunicação afetam as formas com que as pessoas interagem umas com as outras.

KATHERINE A. KLEIN é uma cientista pesquisadora no centro de Prevenção e controle de doenças. Dr Klein earned her PhD from MSU in 2007.

JOSEPH WALTHER é professor no Departamento de Comunicação e do Departamento de Telecomunicações, Estudos de Informação e Media. Seu ensino e pesquisa têm o foco sobre a dinâmica da comunicação mediada por computador e da Internet nas relações interpessoais, grupos de trabalho, suporte social, e sistemas de ensino.

Objetivos do capítulo: A presente pesquisa descreve a maneira pela qual os indivíduos usam os vários meios de comunicação no processo de busca de informação interpessoal. A teoria da tecnologia da comunicação e informação (ICT) de Stephens (2007) foi aplicada a um contexto interpessoal de busca de informações, e foram levantadas questões de pesquisa e hipóteses sobre quais são os canais oferecidos a quem procura e quais os usados pelas pessoas para procurar informações sobre outras em diversos tipos de relacionamentos. Duzentos e 25 participantes responderam a uma pesquisa sobre este tema, e eles relataram uma maior probabilidade de buscar informações sobre alvos menos conhecidos utilizando canais onde eles seriam irreconhecíveis. No entanto, os participantes relataram uma maior probabilidade de buscar informações sobre alvos mais conhecidos usando canais onde seriam identificáveis. Canais, como sites de redes sociais foram freqüentemente relatados por serem úteis, independentemente de o alvo ser bem conhecido ou menos conhecido. Propriedades desses canais e suas implicações para a informação interpessoal buscando, assim como implicações teóricas destes resultados são discutidos e as direções para pesquisas futuras são examinadas.


Argumentação Central: Como as pessoas buscam informações sobre outras? A respeito da busca de informações através da Internet e os Meios de Comunicação Tradicionais, Walther & Parks (2002) sugerem que alguns relacionamentos modernos ultrapassaram as teorias usadas para explicá-los e fazer previsões sobre eles. O fato de que os pesquisadores terem feito poucos trabalhos descritivos neste campo, ressalta uma lacuna na literatura da comunicação mediada por computador (CMC) embora haja um número crescente de canais que as pessoas podem optar por utilizar, pouco se sabe sobre as escolhas da mídia que as pessoas fazem para vários objetivos interpessoais. Antes de discutir a teoria (ICT), a pesquisa começa discutindo a teoria da Redução da Incerteza (Berger & Calabrese, 1975) como um quadro para a compreensão do por que as pessoas buscam informações sobre os outros.


Teoria da Redução da incerteza: Um dos objetivos interpessoais mais básicos é reduzir a incerteza sobre outras pessoas, que, como na formação de impressões, pode ser visto como um processo de espelhamento para gerenciamento de impressão. URT (Berger & Calabrese, 1975) procura explicar e predizer como as pessoas formam impressões uns dos outros e se concentra no processo de comunicação interpessoal nas interações iniciais, A hipótese central da URT é a preocupação inicial que as pessoas têm quando vão ao encontro uns aos outros, é o de reduzir a incerteza sobre si mesmos, e uns dos outros, a fim de aumentar a previsibilidade sobre os outros (e os seus próprios) comportamentos. Assim, a teoria sustenta que em situações onde um indivíduo não tem certeza, existirão as tentativas individuais de buscar informações pertencentes a esse ambiente específico para reduzir a ambigüidade sobre essa situação,


ICT Teoria da Sucessão: Stephens (2007) oferece um modelo de como o uso do canal pode ocorrer como um processo, ao invés de focar no uso de canais individuais separadamente. Como parte deste modelo sucessivo, Stephens sugere que diferentes tarefas podem ser mais bem realizadas através da utilização de diferentes padrões de uso do canal. O modelo é articulado para uso com tarefas de organização, e se baseia em uma lista de tarefas identificadas anteriormente por Flanagin e Metzger (2001), bem como uma tarefa adicional, conhecida como''documentação''. O modelo oferece proposições testáveis ​​específicas sobre o uso diferencial de canais para atingir vários objetivos enquanto as relações entre as pessoas se desenvolvem.


Método: O texto descreve o público participante, o procedimento, as medidas e os resultados.

Resultados: Este estudo relata que os indivíduos são mais propensos a usar canais que lhes permitem manter o anonimato para procurar informações sobre alvos menos conhecidos. No entanto, quando se busca informações sobre alvos mais conhecidos, os indivíduos são mais propensos utilizar os canais em que são identificáveis ​​como buscadores de informação. Há também algumas informações que procuram ferramentas, como sites de redes sociais, que oferecem aos usuários a oportunidade de ser ao mesmo tempo identificável e não identificáveis ​​(dependendo de como eles são usados​​), e são vistos como úteis para a busca de informações sobre ambos os menos conhecidos e mais conhecidos alvos. Embora a utilidade de grupos de canais seja consistente com a hipótese de previsões, estas previsões dizem pouco sobre o quão útil cada canal realmente é.


Em primeiro lugar, os canais que as pessoas geralmente relatam como não sendo úteis para buscar informações sobre os outros, não importando a relação entre o alvo e o buscador inclui blogs, cartas e mensagens de texto. Não é de estranhar que as cartas não sejam mais uma ferramenta preferida para a busca de informações, pois o e-mail fornece um método mais rápido, mais eficiente de envio de cartas e muitas pessoas têm acesso. É um tanto surpreendente, no entanto, que um novo meio, como weblogs pessoais não sejam usados ​​com mais freqüência. Curiosamente, apesar de blogs terem sido consideradas mais semelhantes aos meios de comunicação que permitem a uma pessoa procurar informações sobre outra pessoa anonimamente, outros resultados da pesquisa indicam que o público a que maioria dos blogueiros destina são amigos e família (Lenhart & Fox, 2006). Assim, as pessoas podem não estar atingindo o seu público-alvo com blogs.Também é possível que a amostra utilizada neste estudo não seja de uma população que usa blogs para este fim. Pesquisas futuras poderiam examinar por que esses canais não eram mais propensos a serem usados para buscar informações sobre outras pessoas.


Em segundo lugar, existem alguns canais que parecem ser úteis para obter informações sociais buscando entre alvos relacionais. Estas incluem mensagens instantâneas e usar outra pessoa. Sites de redes sociais, como facebook.com e myspace.com também foram geralmente considerados úteis, com exceção de usar para a busca de informações sobre membros da família. Consistente com a teoria da massa crítica de mídia interativa (Markus, 1987) não é de estranhar que os estudantes universitários não encontrem utilidade nesses sites para busca de informações sobre membros da família. Estes sites são usados ​​principalmente por estudantes do ensino médio, embora sua popularidade venha recentemente se estendendo para outras populações também (ver, por exemplo, Balakrishna, 2006). Portanto, muitos dos familiares deles não terão uma presença nesses sites. Pesquisas futuras devem examinar por que sites de redes sociais são úteis e como as pessoas formam impressões sobre os outros em sites de redes sociais.


Implicações Teóricas: Embora este estudo mostre a possibilidade de aplicação da (TIC) teoria de sucessão (Stephens, 2007) para a comunicação interpessoal, essa aplicabilidade não é sem questionamentos. O presente estudo analisa especificamente o uso de diferentes canais para uma tarefa que é ao mesmo tempo pessoal e informativa: aprender sobre alguém. Assim, embora algumas das proposições TIC teoria de sucessão de se aplicar a informação interpessoal buscando, outros podem precisar de mais reflexão antes de poder ser aplicadas.


Limitações e Direcionamentos Futuros: Tal como acontece com todos os estudos, as pesquisas atuais têm grandes limitações. Uma gira em torno da medida de probabilidade. Os participantes foram solicitados a classificar a sua probabilidade de uso de cada canal para obter informações sobre uma variedade de pessoas diferentes. Embora este método seja útil, há outras maneiras onde isso pode ser medido, como self reports pessoas de comportamentos previstos podem não refletir com precisão seus comportamentos reais.


Outra possível limitação do presente estudo é a amostra utilizada. Embora haja boas razões em perguntar a estudantes universitários como uma variedade de canais é usada ​​para aprender sobre os outros, seria interessante examinar esses padrões em outras populações.

Conclusão: A presente pesquisa é uma tentativa inicial de responder a pergunta que descreve a maneira pela qual os indivíduos usam uma variedade de canais disponíveis a eles no processo de busca de informação sobre outras pessoas. Os dados sugerem que as pessoas usam uma variedade de métodos, e que estes métodos podem diferir com base na relação do buscador para com o alvo. Este estudo aponta para a necessidade de refinamento teórico para a redução da incerteza nos relacionamentos em relação a utilidade da Internet e outros canais. Ele também destaca a necessidade de determinar as condições limitantes das principais teorias na CMC. Será de grande utilidade direcionar futuras pesquisas para responder a estas questões teóricas.