quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Questões desenvolvidas pelos alunos relacionadas aos textos:

HOGG, Michael A.; VAUGHAN, Graham M. Essentials of social psychology. Published Harlow: Pearson Education. 2010 (p. 64 - 90)

LEARY, Mark. The Self We Know and The Self We Show. In FLETCHER, Garth; CLARK, Margaret. Blackwell handbook of social psychology: Interpersonal processes. Malden, MA: Blackwell Publishing. 2001 (p. 457 - 477)


> Podemos pensar "public/private self" como modos de endereçar comportamentos de fachada? Eles pertencem mesmo à alçada individual, ou podem ser estendidos à alçada social de alguma forma? Podemos considerar uma diferença entre esses dois polos? Como seria possível diferenciá-los ou qualificá-los?


> A partir de Goffman, em que medida pode-se falar de auto-estima como se esta fosse um valor estabelecido internamente, "dentro" do sujeito? Afinal, de acordo com a teoria do looking glass self, esta própria deve (aparentemente), estar submissa à estima externa que atores sociais nutrem por um individuo em especial.

> Na leitura de HOGG, Michael A., lemos que a afirmação da auto estima está relacionada com a formação da identidade social. A pergunta que surge é: As pessoas encontram a reafirmação social que buscam ao expressar selecionadamente a apresentação do self como forma de buscar validação social?

> Na leitura de LEARY, Mark., Como a forma de auto-apresentação influencia ou regula o gerenciamento de impressões dos grupos que interagem on-line?

> HOGG menciona o conceito de "automatic egotism" (PAULLUS & LEVITT, 1987), onde as pessoas se percebem através de uma "lente cor-de-rosa", criando para si uma imagem favorável. Ambientes digitais como o Facebook podem superestimar esse efeito? Que estratégias do Self podem estar comprometidas nesse sentido?

> Como os ambientes digitais podem contribuir para o aprimoramento do Self público e privado?

> Como estabelecer a definição de private self em ambientes digitais - por exemplos sites de redes sociais ou fóruns - onde, muitas vezes, nosso processo de formação de consciência se caracteriza por ser compartilhado e multiplicado, por ser processado de forma conectada e ser externalizado?

> As pessoas são motivadas a externalizar boas impressões sobre si, pois, a maneira como o outro a enxerga será efetivamente decisiva para o modo como ela se comportará em uma determinada situação ou ambiente. As pessoas tendem a esperar as respostas dadas pelos outros sejam condizentes com a maneira pela qual ela se apresentou. Porém, Existe algum indicativo que aponte que uma auto-avaliação positiva, de modo exagerado, resulte em respostas negativas por parte do outro interator?

> Leary discorre sobre a auto-estima dos indivíduos; mostrando as diferenças dos que possuem traços altos e baixos da auto-estima. Mas um mesmo indivíduo pode ter traços de alta self-esteem em determinados contextos de interações sociais, e em outros contextos apresentar traços de baixa self-esteem?

> Hogg comenta que as pessoas desempenham papeis diferentes em contextos diferentes; estaria ocorrendo um aumento da quantidade de papéis sociais ou, talvez, uma redução?

> Ao responder a pergunta 'quem sou', nos universos virtuais, estariam os indivíduos respondendo "quem eu gostaria de ser"? E isso, estaria então auxiliando, talvez, na auto-consciência, e também auxiliando a alcançar essas "metas" de definição pessoal?

> Na perspectiva que destaca o self-esteem como balizador de avaliação das relações interpessoais de aceitação/rejeição, como pensar o desvio às normas e padrões de aceitação social hegemônicos? Considerando que os indivíduos podem rejeitar normas sociais impostas, seu comportamento e sua apresentação podem ser estimuladas e reforçadas pelo desvio e pela própria rejeição. Ao mesmo tempo que rejeita e é rejeitado em certos contextos, podemos pensar, nesta perspectiva, que os grupos e "guetos" seriam uma forma de garantir um espaço específico para a validação/aceitação do desvio? Na adolescência, por exemplo, este processo de rejeição/aceitação parece efetivamente ser de extrema valia para a consolidação do self, balizando a auto-apresentação dentro e fora das redes sociais.

> Parece interessante refletir sobre o "Self-schemas" e sua formação nas sociedades contemporâneas. Como a globalização/massificação de hábitos participa na elaboração e reconfiguração de self-schemas? Qual relação com a publicidade que cria e estimula a valorização de certos comportamentos desde a tenra infância, fornecendo boa parte do repertório de referência para a aceitação social?

> Segundo a "Terror management theory" (Jeff Greenberg), uma alta auto-estima faz com que os indivíduos se sintam fortalecidos diante da ideia da morte tendendo a uma diminuição dos estados de ansiedade frente a ela. Poderíamos afirmar, então, que os esforços empreendidos pelo sujeito em se sentir pertencente a um grupo, ter seu auto-conceito confirmado pelo outro, ser aceito, apresentar-se de forma a sentir que possui o controle em situações de interação social são motivadas pela evitação da morte? É como se a "morte social" (anulação do self) representasse a morte física propriamente dita em termos inconscientes? Perguntando de outra forma: o sentido de existência estaria, então, vinculado a existência social?

> A "self-esteem" e a "self-presentation" têm funções e objetivos diferentes, porém "caminham" juntas e articuladas num processo de mútua influência. Ao que parece, os textos trazem uma ideia de linearidade - traços, padrões comportamentais - acerca da alta/baixa auto-estima enquanto que a forma como o indivíduo se mostra (self-presentation) varia segundo gerenciamento que ele próprio faz para garantir que o outro o reforce em relação aos conceitos que tem de si. Isso pressupõe uma "dança" ou um "jogo", conforme já foi visto em Goffman, ou seja, uma não linearidade. Diante disso, isso não implicaria em uma anular a outra?

> Logo no início do texto (Self, Identity and Society), os autores afirmam que a interação social, ou a existência social, em si, depende das pessoas conhecerem a si mesmas e aos outros. Estabelecendo uma relação com as interações em ambientes digitais, em que é possível que as pessoas não saibam quem são seus interlocutores, questionamos: não haveria ali uma interação social? A interação depende da identidade revelada, explicitada? Numa relação pautada no anonimato, então, não há interação?

> No mesmo texto, é apresentada uma distinção entre os conceitos de Private Self e Public Self. Em tempos de tecnologias digitais, será que esses conceitos ainda se aplicam? Ou precisariam ser reconfigurados a partir de uma problematização acerca de um também redimensionamento dos conceitos de "público" e "privado"? Ainda nesse sentido, é possível estabelecermos uma comparação entre o conceito de self-awareness e os mecanismos de alienação da interação, de Goffman?

> As dinâmicas de self-enhancement possuem implicações nos processos de escolha e percepção dos pares sociais? Ao entrar em contato com outra pessoa que possua traços que ameacem sua auto-estima, o indivíduo a percebe de forma diferente?

> Em que medida mecanismos que explicitam alguns traços das interações nos sites de redes sociais podem condicionar a auto-estima e necessidade de aprovação média nas populações com acesso amplo a estas tecnologias? Ao mostrar o número de depoimentos, likes e retweets, os sites de redes sociais estariam fomentando a necessidade de aprovação social explícita?

> A partir da ideia de que o self emerge e é formado pela interação social, dos papéis desempenhados pelas pessoas na sociedade, podemos entender que ele perde certa autenticidade?

FICHAMENTO – INTERPERSONAL PROCESSES (2001)

CHAPTER XVIII – THE SELF WE KNOW AND THE SELF WE SHOW: SELF-ESTEEM, SELF PRESENTATION, AND THE MAINTENANCE OF INTERPERSONAL RELATIONSHIPS


FICHAMENTO REALIZADO POR FERNANDA CARRERA



Sobre o Autor:

Mark R. Leary é professor de Psicologia e Neurociência, e diretor do Programa de Psicologia Social da Duke University. Doutor em psicologia social pela Universidade da Flórida (1980), lecionou em Denison University e Wake Forest University. Seus interesses de pesquisa centram-se na motivação social e na emoção, e em processos envolvendo noções de self e identidade, sendo membro da Associação Americana de Psicologia.

Objetivos:

Trazer um elo de ligação entre o self público e o privado - conceitos separados pela maioria das pesquisas do campo da psicologia e da sociologia - entendendo o papel da auto-estima como indicativo do valor que o outro dá ao indivíduo nas relações interpessoais. Perceber de que forma o self público se serve de artifícios de representação para aumentar ou manter este valor e, por fim, elevar a auto-estima do indivíduo.

Argumentação Central:

No capítulo, o autor começa a sua argumentação alertando para o fato de que somente em seres humanos é possível ver esforços deliberativos de transmitir uma imagem para as outras pessoas, imagem que pode ou não combinar com aquela que imaginamos de nós mesmos.

Nos estudos sobre self, existem duas visões tradicionais: uma que foca no self privado, subjetivo, e outra no self social, público. A primeira explora como as pessoas desenvolvem um senso do seu próprio self, os motivos psicológicos que afetam a sua visão sobre o self, e as implicações emocionais e comportamentais de como as pessoas percebem a si mesmas. O segundo, que pode ser exemplificado pelo pensamento de Goffman, afirma que o self é um produto da cena e não a causa dela. Ou seja, o único self verdadeiro é o público.

Dentre as motivações que constroem o self, o “aprimoramento” é o que interessa neste capítulo. Pesquisas das duas tradições percebem a existência do aprimoramento como motivo para a construção de si mesmos de forma favorável, socialmente desejável. No self privado, há, de acordo com as pesquisas tradicionais, a motivação da auto-estima; enquanto no self público, há a representação. O interesse do autor é considerar estas duas motivações em um único processo.

Depois de trazer a discussão sobre a distinção entre self público e privado, o autor afirma que a abordagem que sugere que as pessoas usam sentimentos subjetivos sobre a sua auto-estima como indicadores de outra conveniência social, como domínio ou aceitação social, é útil aos propósitos do trabalho uma vez que mostra como sentimentos privados de auto-estima podem ser relacionados a representações públicas do self do indivíduo.

A Sociometria

Segundo Leary, a teoria da Sociometria pode ser útil para prover um enquadramento necessário ao entendimento da natureza do aprimoramento do self público e privado. De acordo com a mesma, os seres humanos possuem um mecanismo psicológico – a sociometria – que monitora a qualidade das suas relações interpessoais, ou seja, especificamente o grau que outras pessoas dão ao fato de estarem se relacionando com eles. Então, as pessoas não estão constantemente monitorando o que os outros pensam sobre elas, mas estão sempre ligadas na percepção de indicativos que mostrem sentimentos negativos dos outros sobre elas.

A Sociometria motiva o comportamento de representação do self quando é detectada uma diminuição na avaliação relacional. A Sociometria ou sistema de auto-estima monitora o valor relacional e motiva um comportamento para remediar o que precisa.

Assim, no ponto de vista da teoria da Sociometria, a auto-estima é importante porque serve como indicador de avaliações relacionais, ou especificamente, aceitação e rejeição. As pessoas não buscam auto-estima para seu próprio interesse, mas usam estes sentimentos de auto-estima como indicadores do grau que estão sendo avaliadas pelos outros.

As pessoas não são motivadas a manter a auto-estima. Ao invés disso, elas são motivadas a serem aceitas e avaliadas, e a auto-estima é simplesmente o indicador psicológico que elas usam para monitorar a sua inclusão social.

Estratégias de representação do self

Baixa auto-estima sinaliza avaliações relacionais baixas. As pessoas com alta auto-estima tendem a lutar para fazer boas impressões, enquanto aqueles com baixa auto-estima tentam a evitar que outros tenham impressões negativas sobre eles. Isto é, a auto-estima modera o uso de estratégias de proteção ou aprimoramento do self.

As pessoas que acreditam ser negativamente avaliadas pelas outras, isto é, com baixa auto-estima, tendem a ser menos seguras para manter as relações sociais. Isto porque elas acreditam que não podem arriscar em suas representações do self para que ao final possam estar com avaliações ainda mais negativas que antes. Assim, estas pessoas assumem riscos menores de representação do self do que aquelas com alta auto-estima, que acreditam poder, a cada dada situação, aumentar ainda mais a sua avaliação social assumindo riscos de representação do self.

Auto-decepção

O conceito de autodecepção apresenta um paradoxo, porque implica que há um self privado separado em duas partes: aquela que sabe a verdade sobre si mesmo e aquela que não sabe, e aquela que sabe engana a outra. Segundo Leary, estas dissociações são comuns em pessoas com psicopatologias, mas é ainda confusa a existência deste elemento no funcionamento psicológico normal dos indivíduos. o autor ainda alerta que não está sugerindo que este elemento não exista, mas sugere que a decepção acontece por expectativas em relação às avaliações relacionais, e não através de desilusões causadas pelo sef privado.

Conclusões

No caso da auto-estima, as pessoas parecem ser fortemente motivadas a manter imagens favoráveis de si, sentindo-se bem consigo mesmas. No caso da representação do self, as pessoas são motivadas a construir boas impressões nas outras pessoas. A tese central do capítulo é que embaixo das diferenças superficiais entre self público e privado, o aprimoramento é um processo comum que ajuda ao indivíduo monitorar e responder a eventos interpessoais que têm implicações para o grau que ele é avaliado e aceitado ou rejeitado por outras pessoas. Ou seja, auto-estima privada é o coração do sistema que monitora o valor relacional, e a representação do self serve como subsídio para manter e aprimorar este valor.

Diante disso, ficam as questões: A representação do self é somente uma forma de manter o valor relacional ou ela tem outras funções? A auto-estima é só uma parte do sistema de monitoramento interpessoal ou ela faz outras coisas? Estas perguntas ainda ficam em aberto, embora muitas discussões já tenham acontecido ao redor delas. No entanto, algo fica de conclusão do capítulo: tanto o self que conhecemos quanto o self que mostramos estão envolvidos na talvez mais importante tarefa interpessoal e social que a espécie humana precisa encarar: assegurar a aceitação de outros membros do seu próprio grupo.

FICHAMENTO - ESSENTIALS OF SOCIAL PSYCHOLOGY (2010)

SELF, IDENTIDADE E SOCIEDADE (p. 64 - 90)

FICHAMENTO REALIZADO POR TARCÍZIO SILVA

O livro Essentials of Social Psychology é um manual de introdução à Psicologia Social, escrito por Michael Hogg (Claremont Graduate University) e Graham Vaughan (University of Auckland). O capítulo em questão trata do Self, Identidade e Sociedade.

Os autores apresentam a importância da discussão sobre o self e a identidade como construtos para entendermos a percepção e interação social. Entender a identidade passa por entender como as interações sociais com os outros a constroem.


A ideia de self é relativamente recente, pois a estabilidade dos papéis e posições sociais posicionavam o indivíduo de acordo com variáveis e seus valores imutáveis a até pouco tempo, como local de nascimento, família, sexo, raça e religião. Os autores apresentam quatro grandes fatores que permitiram e levaram à atual compreensão do self: secularização, industrialização, iluminismo e psicoanálise. Quanto a este último, escrevem sobre a influência de Freud na composição do self psicodinâmico.


A compreensão do self como algo individual ou coletivo é o tema da seção seguinte. Os autores discutem o papel dos grupos na definição da identidade,. A teoria do comportamento coletivo e das multidões, por exemplo, postulou que existiria um comportamento específico de massas de pessoas, tema bastante característico do início do século XX e suas primeiras multidões urbanas. Esta ideia perdeu força ao longo do tempo, mas influenciou teorias sobre conformidade social e normas, por exemplo.


Ver o self como um construto emergente da interação social e como um processo ao invés de uma entidade definida foi algo proposto por psicólogos do final do século XIX e desenvolvido ao longo do século seguinte. O self poderia ser visto como o “Eu”, o fluxo da consciência e como o “Me”, objeto social. Partindo dessa compreensão do self como objeto de reflexão, George Mead e o itneracionismo simbólico desenvolvem o conceito deste self que surge da interação social e é constantemente recriado ao longo do tempo, interações e influências sociais. Interagir, então, é levar em conta os pensamentos e expectativas das outras pessoas em relação a si e, a partir disso, agir.


A ideia do self espelho propõe que nos percebemos a partir de como os outros nos percebem ou, mais especificamente, como achamos que os outros nos percebem.Os autores citam alguns estudos que mostraram a importância da percepção de si que emergiu depois de determinadas ações, algo que se mostrou bem diferente em contextos públicos e privados.


Continuando a discussão sobre auto-consciência (self awareness), os autores falam da teoria sobre o tema criada por Charles Carver e Michael Scheier que distinguiram dois tipos de self que pode vir à autoconsciência:

- o self privado, que engloba pensamentos privados, sentimentos e atitudes;

- o self público, que se refere a como as pessoas veem o indivíduo, a sua imagem pública.


Os trabalhos e teorias citados pelos autores mostram a importância de uma auto-consciência equilibrada: de um lado serve para ajudar o indivíduo a comparar comportamentos com padrões internos, de outro pode prejudicar a ação ao ser superestimada.


O auto-conhecimento está ligado a diversos fatores, como esquemas, aprendizado, comparação e regulação.


Os indivíduos seriam esquemáticos em relação a alguns traços individuais, especialmente os de importância percebida. E estes traços seriam múltiplos na maioria dos indivíduos, como um mecanismo de satisfação: ao ser confrontado ou enfrentar fracasso em um fator de importância, outro pode ser mais valorizado.


O processo de aprendizado sobre o self é pautado por diversas dinâmicas, como o efeito de superjustificação. As pessoas tenderiam a dar mais ênfase, atenção e intencionalidade a tarefas e ações percebidas como de escolha própria, enquanto ao receber determinantes externos tal não se apresenta. As implicações dessa dinâmica podem ser vistas em contextos educacionais, por exemplo.


A teoria da comparação social, proposta por Leon Festinger, explica como as pessoas aprendem sobre si através da comparação com os outros. O impacto na auto-estima é considerável em contextos familiares, por exemplo, no qual irmãos mais novos tendem a se comparar com os irmãos mais velhos. Um mecanismo de defesa é a manutenção de auto-avaliação, através da qual as pessoas tendem a diminuir as semelhanças percebidas com os objetos sociais de comparação ou, ainda, terminar os relacionamentos. Tais mecanismos de comparação também ocorrem entre grupos, onde as pessoas se categorizam de acordo com alguns atributos característicos do grupo.


A regulação do self entre selves possíveis, atuais e desejados influenciam os sentimentos individuais e a interação social. Os autores citam Higgins, que dividiu o sistema regulatório do self em dois tipos de acordo com a motivação e metas: sistema de promoção e sistema de prevenção, onde o primeiro está associado a pessoas que buscam correr riscos para alcançar os objetivos enquanto o segundo se refere ao evitamento de situações de falha.

Em seguida, os autores explicam os conceitos de identidade social e identidade pessoal. A identidade social é explicada em termos de pertencimento a grupos, enquanto a identidade pessoal é definida de acordo com traços e relacionamentos idiossincráticos. Distinguindo self e identidade, os autores associam o caráter múltiplo do self a formas diferentes deste: self individual, self relacional e self coletivo.

A construção do self e a busca por auto conhecimento é pautada por três classes de motivos, segundos os autoers: self-assessment, self-verification, self-enhancement.

- Self-assessment é o processo pelo qual as pessoas procuram informações que validem e definam a compreensão do self

- Self-verification é a tendência de confirmar o que os indivíduos já pensam de si, para manter a consistência

- Self-enhancement descreve a tendência que os indivíduos possuem de procurar, encontrar e dar mais atenção a informações que construam imagens favoráveis de si.


Utilizando a auto-reflexão como um modulador desses fatores, Sedikides descobriu que no contexto de seus experimentos o self-enhancement foi mais forte, seguido de a self-verification e do self-assessment. Ou seja, favorecer as imagens positivas e desejáveis do self são mais fortes.


A auto-estima é o tema da seção seguinte, na qual os autores tentam responder porque as pessoas são tão motivadas a pensar positivamente sobre si mesmas. Citam Sedikides e Gregg que reuniram três características do pensamento humano quanto a esse tema sob o conceito self-enhancing triad: as pessoas costumam superestimar seus pontos favoráveis, superstimar seu controle sobre os eventos e são irrealmente otimistas.


Entre pessoas de alta e baixa auto-estima, algumas características são mais presentes em um dos pólos desse valor. As primeiras seriam mais persistentes, emocionalmente estáveis, menos flexíveis e influenciáveis, por exemplo.


Os autores revisam duas motivações possíveis sobre a qual a busca pela auto-estima se basearia. A primeira seria o medo da morte, pois as pessoas com auto-estima alta se sentiriam melhores sobre si, positivas e empolgadas com a vida. Outra explicação é ver a auto-estima como indicador do quanto uma pessoa é socialmente aceita.


Finalizando o capítulo, os autores falam da auto-apresentação e gerenciamento de impressões. A partir da revisão do trabalho de Goffman sobre o tema, identifica duas classes de razões para auto-apresentação: estratégica e expressiva. A primeira estaria mais associada a pessoas que se auto-monitoram mais, uma vez que estas pessoas moldam de forma mais consciente seu comportamento para as diferentes audiências.


A auto-apresentação estratégica é explicada em termos de cinco motivos, propostos por Ned Jones e Thane Pittman: auto-promoção; agrado; intimidação; exemplificação e súplica. A auto-apresentação expressiva envolve demonstrar o conceito que o indivíduo tem de si através de suas ações.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Questões desenvolvidas pelos alunos relacionadas aos capítulos do livro 'Ritual de Interação' de Erving Goffman:

Cap. 01 - Sobre a preservação da fachada - Uma análise dos elementos rituais na interação social
Cap. 04 - A alienação da interação


> Goffman (p. 49) afirma: "a natureza humana universal, não é uma coisa muito humana. Ao adquiri-la, a pessoa se torna uma espécie de construto, criada não a partir de propensões psíquicas internas, mas de regras morais que são carimbadas nela externamente. Essas regras, quando seguidas, determinam a avaliação que ela fará sobre si mesma e sobre seus colegas participantes no encontro, a distribuição de seus sentimentos e os tipos de práticas que ela empregará para manter um tipo especificado e obrigatório de equilíbrio ritual".

Se a afirmação de Goffman representa de fato uma limitação por regras, ou melhor, como elas operam transformando o ser humano em um derivado de requerimentos estabelecidos numa organização ritual de encontros sociais, então, o que existe sempre é uma ilusão de agenciamento humano?


> Ainda a partir da citação de Goffman, os "sentimentos" também podem ser atribuídos a ordem da "regulação" através das normas morais? Ou seja, também temos aqui uma ilusão de agenciamento dos nossos sentimentos, que acreditamos muitas vezes, serem os mais genuínos?


> Ao ler sobre processo de correção, incompatibilidade de juízos de valor social, lembrei-me da afirmação de Argyle: Quando duas pessoas se encontram pela primeira vez procedem de maneira cautelosa (pg. 245). Essa cautela característica do primeiro encontro pode ser associada como ameaça, exigindo um processo de correção?


> Goffman fala da possibilidade de um indivíduo se engajar em um encontro de conversação tornando-se espontaneamente envolvido. Mas o que podemos entender por engajamento?


> Goffman sustenta que é na situação, na interação entre os interagentes, que se estrutura a experiência individual dos atores. Estes se articulam entre si, por meio de influências recíprocas onde avaliam e julgam o contexto em que elas acontecem para definir a conduta mais adequada a ser tomada. O autor parece não considerar os significados particulares do sujeito nas ditas interações face-a-face. Qual o lugar do "individual" nessas interações?


> Entendo que para que haja o gerenciamento de impressões, deve haver intencionalidade das partes. O sujeito considerado "louco" gerencia impressões na situação de interação social? Pode-se dizer que há interação social com uma pessoa que está alheia a situação?


> Considerando a centralidade do indivíduo e a racionalidade hegemônica nas interações sociais contemporâneas, seria possível pensar no face-saving game em outros tipos de interações sociais como aquelas associadas à dádiva (Marcel Mauss)?


> Como pensar em interações nas quais não são tão evidentes a racionalidade e o cálculo
utilitário?


> Goffman explica que as questões discutidas neste texto aplicam-se a encontros imediatos e mediados, embora deixe claro que durante os contatos pessoais diretos, a importância da fachada torna-se ainda mais evidente. Então, partindo de uma reflexão sobre os encontros mediados, com foco especial naqueles experimentados nos ambientes digitais, questiona-se: qual a importância da fachada, nesse contexto? Os fatores rituais - tão valorizados por Goffman - permanecem importantes para as interações digitais?


> Goffman afirma que as obrigações de envolvimento da interação focada conversacional exigem um equilíbrio de conduta tão delicado que a alienação e desconforto são resultados típicos. Já a interação desfocada não exige as mesmas delicadezas de ajustes, segundo o autor. Transpondo essas questões para as ambiências digitais, poderíamos considerar a atuação de um indivíduo no twitter como uma maneira de interação desfocada? Ou nos ambientes digitais as condutas cerimoniais assumem outras formas, outras etiquetas, diferentes daquelas próprias da interação face a face e consequentemente, outros tipos de controles sociais de interação? Ou ainda: será que as condutas cerimoniais dependeriam também do tipo de ambiência digital a que nos referimos? (twitter, facebook, sites pornográficos, por exemplo)


> Quais as regras de conduta estabelecidas para as interações, que permitem um senso de realidade entre os participantes?


> As regras de conduta são as mesmas tanto para as interações "Face a Face" quanto nos contatos mediados?


> É possível pensar em cooperação nas interações sociais entre organização e indivíduos nas mídias sociais? Há, de fato, diplomacia nestas trocas?


> Quando a face de uma organização é ameaçada, há esforço iniciado pelo indivíduo para que a mesma seja reconstruída?


> De acordo com o exposto nas páginas 343-344, é possível afirmar que os questionamentos acerca dos perfis de jornalistas em mídias sociais estejam baseados nestas obrigações das relações sociais?


> A perceptividade e habilidade social são desenvolvidas ou atrofiadas pelo uso e exploração dos diferentes meios de comunicação? Um meio aparentemente mais interacional como a internet favoreceria essa perceptividade melhor que a televisão?


> Como as interrupções e retiradas que o indivíduos realizam na conversação online diferem da conversação face a face? Aproximando o debate que Goffman traz à noção de Argyle de sequência de interação em torno de "tópico" (Argyle, p.202), será que no Twitter as conversações seriam mais fugidias e abertas quando relacionadas a tópicos, em comparação à conversações relacionadas a questões pessoais?


> O controle da expressividade deve ser sempre valorizado, já que comportamentos mais assertivos tentem a se repetir?


> O processo corretivo pode limitar expressões coadjuvantes ao ritual de equilíbrio?

FICHAMENTO - RITUAL DE INTERAÇÃO: ENSAIOS SOBRE O COMPORTAMENTO face a face (2011)

CAPITULO 4 - A ALIENAÇÃO DA INTERAÇÃO

FICHAMENTO REALIZADO POR TERESA PAULA COSTA

Sobre o autor:

Erving Goffman, doutor em Sociologia e Antropologia pela Universidade de Chicago, tornou-se um dos estudiosos mais citados nas Ciências Sociais e Humanas nas últimas décadas. Dedicou-se especialmente ao estudo da interação social no dia-a-dia, com destaque ao comportamento em lugares públicos.

Argumentação Central:

O tópico da conversa pode formar o principal foco da atenção cognitiva do indivíduo e o orador de sua atenção visual.

O envolvimento com a interação tem um caráter vinculador e hipnótico, no entanto o indivíduo pode se engajar simultaneamente em outras atividades dirigidas a um objeto – envolvimentos laterais – gerenciando esses envolvimentos de forma abstraída, sem que o distraia de seu foco de atenção principal.

Obrigações de envolvimento

O sistema de etiqueta social mantém a ordem cerimonial. Através dela a capacidade do indivíduo de ser levado por uma conversa se torna socializada, assumindo uma carga de valor ritual e função social.

Coerções sociais definem as escolhas do foco principal de atenção, dos envolvimentos laterais e a intensidade do envolvimento.

As ações do indivíduo precisam acontecer para satisfazer suas obrigações de envolvimento, sem agir exatamente para satisfazer essas obrigações.

O indivíduo deve manter seu envolvimento e agir de forma a garantir que os outros mantenham o deles. É o papel de participante.

As tendências do orador de diminuir suas expressões e a dos ouvintes de aumentar seus interesses formam a ponte que as pessoas constroem entre elas.

As formas de alienação

O envolvimento, provavelmente, em qualquer momento pode levar o indivíduo a alguma forma de alienação.

As formas de alienação constituirão um desvio de comportamento de um tipo que pode ser chamado de “envolvimento errônio”

Formas de envolvimento errônio:

Preocupação externa: Focar a atenção principal em algo que não está sendo discutido no momento.

- O tipo de desculpa que os outros sentem que o indivíduo tem pela preocupação principal define o grau de ofensa dos outros participantes.

- O ato da desculpa tem relação com o respeito entre os participantes e com as regras morais que tornam as pessoas socialmente e interativamente sociáveis.

- A sociedade torna-se segura através das regras e dos gestos reafirmados

Consciência de si mesmo: O indivíduo dá atenção a si mesmo enquanto participante da interação, colocando foco de atenção em si ao invés no conteúdo da conversação. A imagem e a avaliação de si, durante a interação, é o que interessa. A ameaça da perda da definição da imagem é a preocupação.

Consciência da interação: Preocupação maior com a forma em que a interação está ocorrendo, ao invés de envolvimento espontâneo com o tópico da conversação.

Consciência dos outros: Um outro participante torna-se objeto de atenção.

- O outro faz com que o indivíduo tenha consciência deles e a preocupação dirige-se para fingir através de gestos o que o outro esperava dele como comportamento.

- Afetação/afetados – Pessoas atentas à impressão que estão causando, preocupando-se em controlar a avaliação que será feita – posando.

- Insinceridade/insinceros – Pessoas preocupadas em controlar a impressão que será formada em sua atitude e sobre si – sem pose.

- Imodéstia/imodestos – Indivíduos parecem louvar a si mesmos verbalmente.

- Envolvimento exagerado: A pessoa se envolve exageradamente no tópico da conversação, dando ao outro a impressão de não autocontrole dos seus sentimentos e ações. O envolvimento com a conversa passa a um envolvimento com o orador. Assim, momentaneamente, ela incapacita-se enquanto participante da interação.

A atividade exagerada é a alienação de outra.

Sobre o caráter repercussivo das ofensas de envolvimento

Testemunhar uma ofensa contra obrigações de envolvimento gera a mudança da sua atenção da conversação para a ofensa ocorrida. O ofensor pode sentir envergonhadamente consciência de si.

Ter consciência de si ou dos outros é precisamente uma ofensa contra as obrigações de envolvimento.

O fingimento do envolvimento

O indivíduo obrigado a participar de uma conversa, quando não capturado por ela, provavelmente, fingirá aparência e envolvimento.

Quando as obrigações de envolvimento não podem ser negligenciadas e nem realizadas espontaneamente, há tipo de desconforto na conversação.

Quando o indivíduo está desconfortável no encontro pode gerar desconforto para os outros.

O fingimento tem um efeito amortecedor sobre as conseqüências repercussivas do envolvimento errôneo na garantia de não gerar descontentamento nos outros participantes.

O motivo do indivíduo alienado em maquinar o envolvimento interfere no julgamento que se terá sobre ele.

A pessoa pode estar interessada no que pode ganhar ao levar os outros acreditarem que capturaram sua atenção. Ocupa-se com a tarefa de passar impressão de estar ocupado com a conversa.

As formas de não esconder bem o envolvimento errôneo diplomaticamente escondido constituem, então, os sintomas do tédio. Alguns deles sugerem ausência de esforço para terminar ou continuar o encontro ou sua participação oficial. Outros sintomas funcionam como um aviso diplomático, sugerindo término da participação.

Manifestar sinais de tédio é uma inconsideração.

Há a ausência de uma obrigação de fingir envolvimento. Também há outra que induz o indivíduo a não fingi-lo muito bem.

O indivíduo constrangido pode tentar esconder de si mesmo este estado convencendo-se estar entediado.

Se um participante não conseguir manter a interação funcionando, outros participantes terão que se ocupar da parte dele. É a função de ignição = manter a interação funcionando. Participantes diferentes, em momentos diferentes da interação podem/vão realizá-la.

Generalizando o esquema

1. Contexto de obrigações de envolvimento

- Lidar com situações em que todos estejam oficialmente obrigados a manterem-se como participantes da conversação e a manter envolvimento espontâneo é uma limitação.

- O contexto total em que o indivíduo se encontra define as obrigações de envolvimento.

- Nas situações em que o envolvimento principal dos presentes é investido por meio de uma ação física, a conversação, se ocorrer, será um envolvimento lateral, com duração definida pelas exigências da ação desempenhada.

- Existem situações em que o indivíduo pode aceitar uma alocação diferente de envolvimento daquela esperada para os outros e os outros podem ter um padrão de envolvimento esperado e apropriado para ele.

- Participantes completos são aqueles de quem se espera fala e escuta.

- Especialistas não participantes são aqueles cujo trabalho é se mover de forma discreta e cuidar de algumas das mecânicas da ocasião. Demonstram respeito pela ocasião ao tratá-la como um envolvimento lateral.

- Quanto mais participantes houver para manter a ocasião de larga escala menos ela dependerá de qualquer deles.

Pseudoconversações

- São interações não faladas, em que os símbolos trocados são gestos estilizados. São estruturalmente semelhantes às interações faladas, mas com mobilização de capacidades relacionadas ao controle muscular para o desempenho da interação.

Interação desfocada

- Indivíduos em presença visual e auditiva uns dos outros, participando do mesmo contexto, sem estarem em interação direta, ligados por um foco de atenção compartilhado.

- Todos os tipos de envolvimento errôneo ocorrem durante a desfocada.

- Parece que há menos consciência de si mesmos em sua capacidade de participantes do que na interação focada.

- A interação desfocada parece não exigir o mesmo ajuste que a alienação e o desconforto exigem em interações focadas.

Conclusão

Muitos encontros sociais do tipo conversacional possuem a exigência sobre a capacidade do indivíduo enquanto participante da interação.

Importante saber se o estatuto ou modos do indivíduo tendem a prejudicar ou ajustar a manutenção do envolvimento espontâneo na interação.

Os indivíduos podem derivar um senso firme de realidade dos encontros sociais que se envolvem espontaneamente.

Quando ocorre um incidente e o envolvimento espontâneo é ameaçado, a realidade é ameaçada. O sistema social que é criado em cada encontro é desorganizado e os participantes se sentirão desgovernados, irreais e anômicos.

Pessoas obedientes às regras de conduta sociais estão prontas para interação falada – necessária para a sociedade realizar-se.

Eliminou-se as formas pelas quais o indivíduo pode perder o passo com o momento sociável.

Deverá existir o que aprender sobre a forma pela qual o indivíduo pode ser alienado de coisas que ocupam muito mais o seu tempo.

FICHAMENTO - RITUAL DE INTERAÇÃO: ENSAIOS SOBRE O COMPORTAMENTO face a face (2011)

CAPITULO 1 - Sobre a preservação da fachada. Uma análise dos elementos rituais na interação social.

FICHAMENTO REALIZADO POR TERESA PAULA COSTA


Sobre o autor:

Erving Goffman, doutor em Sociologia e Antropologia pela Universidade de Chicago, tornou-se um dos estudiosos mais citados nas Ciências Sociais e Humanas nas últimas décadas. Dedicou-se especialmente ao estudo da interação social no dia-a-dia, com destaque ao comportamento em lugares públicos.


Argumentação Central:

Em cada encontro social tende-se ao desempenho de atos verbais e não verbais. O padrão destes é chamado de linha. Com ele se expressa opinião sobre a situação e a avaliação sobre si e os participantes do encontro.

A pessoa em interação reivindica para si um valor social através da linha. Isso define o termo fachada.

A fachada expressa uma imagem do eu delineada em termos de atributos sociais aprovados.

O contato com os outros permite a experimentação de uma resposta imediata à fachada. Os sentimentos envolvidos e ligados a ela são variáveis.

A pessoa tem envolvimento com sua própria fachada, tendo sentimentos com a ela. Da mesma maneira terá com a fachada de outros participantes do contato, de forma tão imediata e espontânea quanto faz com a sua. Os sentimentos podem ser de quantidade e direção diferentes.

As regras do grupo e a definição da situação determinam quantos sentimentos se terá pela fachada e como deverão ser distribuídos pelas fachadas envolvidas.

A pessoa pode ter, estar com ou manter a fachada. Isto vai depender da linha que ela assumir e dela apresentar uma imagem de si internamente consistente, sendo apoiada por juízos e evidências comunicadas por outros participantes e confirmada por evidências comunicadas por agências impessoais na situação.

A fachada é localizada difusamente no fluxo de eventos do encontro, tornando-se manifesta quando esses eventos são lidos e interpretados para alcance das avaliações expressas neles.

Um participante com atributos conhecidos ou visíveis pode esperar ser apoiado em uma fachada particular, reconhecendo ser apropriado que isso aconteça. Baseado em alguns atributos conhecidos receberá a responsabilidade de possuir outros atributos. Os coparticipantes não terão consciência do caráter de muitos desses até que seja depreciada sua posse. Nesse momento todos poderão tornar-se conscientes desses atributos e pressupor que ele deliberadamente deu uma falsa impressão de possuí-los.

Os participantes do encontro terão um conjunto de linhas abertas para escolherem, bem como de fachadas, a partir dos atributos e da natureza convencionalizada do encontro.

A preocupação com a fachada enfoca a atenção da pessoa na atividade em curso.

A manutenção da fachada na atividade depende do lugar da pessoa no mundo social.

A situação em curso e o mundo social mais amplo têm relação de interdependência.

A relação com a fachada tem interdependência com a temporalidade: passado, presente e futuro.

A pessoa teme perder a fachada atual devido a possibilidade dos outros não precisarem demonstrar consideração pelos seus sentimentos no futuro.

Um encontro com pessoas com as quais não terá interações futuras libera-a de assumir uma linha “altiva” que o futuro depreciará ou de sofrer humilhações que tornariam interações futuras com elas algo constrangedor para enfrentar.

A pessoa pode estar com a fachada errada. Isto ocorre quando é trazida alguma informação sobre seu valor social que não pode ser integrada com a linha que está sendo mantida para ela.

A pessoa pode estar fora da fachada. Isto ocorre quando ela participa de um contato sem uma linha pronta do tipo esperado para a situação.

A pessoa quando está com a fachada expressa sentimentos de confiança e de convicção, estando firme na linha que está assumindo.

A pessoa quando está com a fachada errada ou fora da fachada, provavelmente, sentirar-se envergonhada e infeliz devido ao que aconteceu com a atividade por sua causa e ao que poderá acontecer com sua reputação enquanto participante. Sente-se mal por sua expectativa de que o encontro apoiasse uma imagem do seu eu que estava emocionalmente ligada e que agora encontra-se ameaçada.

A pessoa quando está com a fachada errada ou fora da fachada percebe no encontro uma falta de apoio apreciativo. Isto pode momentaneamente incapacitá-la enquanto participante da interação devido aos sentimentos que terá e pode ficar com a fachada envergonhada.

A pessoa pode suprimir ou esconder qualquer tendência de ficar com a fachada envergonhada. A esta capacidade é empregado o termo aprumo.

As expressões seguintes significam:

- “perder a fachada” – está com a fachada errada, envergonhada ou fora da fachada.

- “salvar a fachada” – manutenção de uma impressão de que não perdeu a fachada.

- “dar fachada” – quando outra pessoa assume melhor a linha que não se foi capaz de assumir sozinha.

Quando se assume uma imagem do eu expressa através da fachada haverá expectativa de que a pessoa atue de acordo a fachada. Assim ela recebe uma fachada para manter e a responsabilidade pelo fluxo dos eventos para a consistência de sua fachada.

Existem controles expressivos da fachada:

- orgulho – por dever a si mesma

- honra – por dever a unidades sociais mais amplas, recebendo apoio delas.

- dignidade – se relaciona com posturas, com a forma pela qual lida com seu corpo, suas emoções, com as coisas que tem contato físico.

A regra social do respeito próprio e a da consideração combinam-se gerando um efeito de manutenção da fachada particular e a das dos outros pela pessoa.

Acontece um tipo de aceitação mútua de linhas que tem um efeito conservador e uma característica estruturante da interação.

Interação: a pessoa apresenta uma linha inicial → avaliação da situação →ela e as outras construirão respostas a partir dela. Se a pessoa altera a linha → descrédito → confusão nos participantes. Os participantes estão presos a pessoa que inicia.

A manutenção da fachada é uma condição da interação, não é seu objetivo.

“salvar a fachada” } a partir de uma orientação defensiva. Se dá por causa:

(Considerar que pode causas a perda da fachada dos outros.)

da ligação emocional com a imagem do eu expressa.

do seu orgulho ou honra.

do poder exercido sobre os outros.

“salvar a fachada dos outros” } a partir de uma orientação protetora. Se dá por causa:

(Considerar método que não gere a perda da sua fachada.)

da ligação emocional com a imagem deles expressa.

do direito moral de proteção atribuído aos coparticipantes.

da hostilidade que poderá receber se perceberem sua fachada.

Para manutenção da própria fachada, pode-se obrigar-se a ter consideração pala linha assumida pelos outros participantes.

“Preservação da fachada” serve para neutralizar eventos que possam ameaçar a fachada. São ações tomadas para tornar ou manter a fachada consistente.

Aprumo é um tipo de preservação da fachada a partir do controle do constrangimento.

Cada pessoa, subcultura e sociedade parecem ter seu próprio repertório característico de práticas para salvar a fachada. O uso deles está associado às interpretações que se pode ter sobre os atos dos envolvidos no encontro.

Existem três níveis de responsabilidade na ameaça à fachada dos outros por suas ações:

Ação inocente, intencional e involuntária.

Ação com malícia e despeito, intencionada em causar insulto.

Ação ofensiva incidental. Realiza apesar de suas conseqüências.

São três tipos de ameaça que podem ser introduzidos:

- Pelo próprio participante

contra sua fachada e a dos outros

- Pelos outros participantes

Tipos básicos de preservação da fachada:

1) Processo de evitação: evitar ameaças à sua fachada.

- Evitar contatos com probabilidade de ocorrência de ameaças.

- Manter-se longe de atividades inconsistentes com a linha adotada e mantida.

- Suprimir expressão de sentimentos até a descoberta de linhas que os outros estarão dispostos a apoiar para ela.

- Preparar um eu para si mesma que não seja depreciativo.

- Realizar ações para a preservação das fachadas dos outros e definição de situação em que seu respeito próprio não esteja ameaçado. Para isto emprega discrição, engodos, cortesias, ambigüidades cuidadosas, etc.

- Neutralizar atos potencialmente ofensivos, evitando sua ocorrência ou mantendo uma ficção de que nenhuma ameaça à fachada ocorreu. Ocorre neste caso uma não observância cuidadosa a seus próprios atos ou aos dos outros, uma cegueira diplomática.

- Esconder ou ocultar atividades frente à perda de controle das expressões durante um encontro.

2) Processo Corretivo

- Um evento incompatível com os juízos de valor social mantidos é definido como incidente.

- Quando os participantes não conseguem impedir o incidente tentarão corrigir os seus efeitos e restabelecer um estado ritual satisfatório.

- A extensão e a intensidade do esforço coletivo para restabelecer equilíbrio se adpata à persistência e à intensidade da ameaça.

- A fachada é sagrada, mantê-la é uma ordem ritual

- Intercâmbio ameaça a fachada → seqüência de atos em movimento

Corretivo

Restabelecimento do equilíbrio ritual

Unidade concreta básica da atividade social.

- O intercâmbio compõe o processo corretivo, que é composto por quatro fases, caracterizadas por ações: 1. desvio 2. oferta 3. aceitação 4. agradecimento

Evento incidental → erro de conduta → participantes chamam atenção → impõem resolução do evento ameaçador.

Oferta para correção – do ato ofensivo ou de si mesmo.

- Neutralização: Mostrar que é um evento insignificante / um ato intencional / uma piada / um produto inevitável e “compreensível”.

- Atenuar: Mostrar sobre o criador. Que ele estava sob influência/que não era dono de si/ que estava seguindo ordens de outra pessoa/ que não agiu por vontade própria.

- Redefinição: Fornecer compensações aos feridos e punições, penitência e expiação para si/ sugerir ser pessoa renovada/ mostrar que não trata levianamente sentimentos dos outros/ mostrar que está preparado para assumir conseqüências.

Aceitação da oferta de correção → restabelecimento da ordem expressiva e das fachadas apoiadas por essa ordem.

Comunicação de gratidão para os que aceitaram e deram o perdão.

As fases do processo corretivo ofertam modelo do comportamento ritual interpessoal. Este ciclo corretivo é padrão, podendo ser modificado ou sofrendo desvios diversos.

As emoções têm um papel essencial nesses ciclos de respostas, funcionando como jogadas na lógica de um jogo ritual imprescindível para compreendê-las.

Ganhando pontos – o uso agressivo da preservação da fachada

Toda prática que consegue neutralizar uma ameaça particular para salvar fachada → possibilidade de que a ameaça seja introduzida posteriormente como o objetivo de ganhar algo, em segurança, através dela.

Quando uma pessoa trata a preservação da fachada como algo que ela sabe que os outros realizarão ou aceitarão, considerará um encontro como uma arena em que se realiza uma disputa ou partida. O propósito será ganhar pontos para si mesmo.

Malícia é definida como capacidade em realizar “esnobadas” e “afinetadas”. A primeira são pontos ganhos através da alusão a posições de classe social e a segunda à respeitabilidade moral.

Em intercâmbios agressivos o vencedor consegue apresentar informações favoráveis sobre si mesmo e desfavoráveis sobre os outros e demonstrar que, enquanto participante, cuida de si melhor que seus adversários.

A escolha da preservação da fachada apropriada

A pessoa com fachada ameaçada diante de um incidente pode tentar restaurar a ordem ritual através de uma estratégia diferente da prática desejada ou esperada pelos outros participantes.

Uma prática pode não ser empregada por falta de decisão do participante, deixando os outros sem saber que método terão que seguir.

Cooperação na preservação da fachada

Quando uma pessoa percebe que é incapaz de salvar sua própria fachada, os outros se dispõem a protegê-la. Surge uma cooperação tácita em que cada participante preocupa-se, por razões diferentes, em salvar a própria fachada e a dos outros para obtenção de seus objetivos em comum, conjuntamente.

Tipos de cooperação tácita:

- Diplomacia em relação à preservação da fachada: a pessoa defende sua própria fachada e protege a dos outros, e possibilita que os outros preservem às suas próprias e a dela.

- Autonegação recíproca: a pessoa se priva ou se deprecia enquanto favorece e elogia os outros. Os juízos favoráveis sobre si vêm dos outros e os desfavoráveis dela.

Os papéis rituais do eu

Os direitos e deveres de um participante da interação são projetados para impedi-lo de abusar de seu papel de objeto de valor sagrado. Ele pode perdoar participantes por afrontas a sua imagem, não aceitá-las e permitir maus-tratos cometidos por si.

Interação falada

Tendência humana de usar sinais e símbolos.

Não existem ocasiões de fala sem a possibilidade do surgimento de impressões inapropriadas e sem exigência da demonstração de uma preocupação séria de como participante lida consigo e com os outros.

A interação falada, em qualquer sociedade, tem orientação e organização do fluxo de mensagens a partir de um sistema de práticas, convenções e regras de procedimentos. Estes funcionam como guias da ação, tendo relação funcional entre a estrutura do eu e a estrutura da interação falada.

Um conjunto de gestos significativos imputa legitimidade aos participantes. Dá-se um processo de ratificação recíproca.

Estado de fala é quando pessoas ratificadas declaram-se oficialmente abertas umas às outras para propósitos de comunicação falada e juntas garantem manter um fluxo de palavras.

Tendência a manter e legitimar um único foco de pensamento e atenção visual, e um único fluxo de fala, como sendo oficialmente representativo do encontro.

A relação entre o eu e a interação falada também é demonstrada no intercâmbio ritual.

Em encontro conversacional a interação tende a ocorrer em arrancos, um intercâmbio por vez e o fluxo de informações e negócios é parcelado nessas unidades rituais relativamente fechadas.

A pausa entre intercâmbios tende ser maior do que a pausa entre falas num intercâmbio.

Entre dois intercâmbios tende haver uma relação menos significativo de que entre duas falas em seqüência num intercâmbio.

De modo geral uma pessoa determina como deve se comportar durante uma ocasião de conversa testando o significado potencialmente simbólico de seus atos em relação às imagens mantidas do outro.

Atos pessoais imagens do outro

significado simbólico comportamento pessoal

Dessa maneira seu comportamento pessoal se sujeita à ordem expressiva que contribui para o fluxo bem ordenado de mensagens.

É bom que a interação falada tenha a organização convencional que tem para que o fluxo bem ordenado de mensagens faladas seja mantido.

Não afirma que o sistema atual não tenha fraquezas ou desvantagens.

O medo da perda da fachada impede o inicio de contatos em que informações podem ser transmitidas e relações estabelecidas. Pode-se buscar a segurança da solução em vez do perigo dos encontros sociais.

Fachada e relações sociais

Em relações em processo de mudança, o encontro será levado a um desfecho satisfatório sem alteração do curso do desenvolvimento esperado.

Relação social = forma pela qual a pessoa é forçada a confiar sua auto imagem e fachada à diplomacia e boa conduta dos outros.

A natureza da ordem ritual

A ordem ritual parece ser organizada basicamente sobre linhas de acomodação.

Independente da posição social, a pessoa faz um “ajuste” ao se convencer, com o apoio diplomático de seu círculo íntimo de que ela é o que quer ser e que ela não faria, para atingir seus objetivos, o que os outros fizeram para atingir os deles.

A pessoa precisa tomar cuidado com os juízos expressos aos quais ela se coloca numa posição de testemunhar para proteger seu conforto.

A vida social é ordenada.

A pessoa protege, defende e investe seus sentimentos numa idéia de si e idéias não são vulneráveis a fatos e a coisas, mas sim a comunicações.

A natureza humana universal não é coisa muito humana. Regras morais carimbadas na pessoa externamente a tornam uma espécie de construto.

A natureza humana não surge a partir de propensões psíquicas internas.

As sociedades para serem-se, em qualquer lugar, precisam mobilizar seus membros como participantes autoreguladores em encontros sociais. A capacidade geral de ser limitado por regras morais pode pertencer ao indivíduo, mas o conjunto particular de regras que o transforma num ser humano é derivado de requerimentos estabelecidos.