quinta-feira, 8 de setembro de 2011

FICHAMENTO - A INTERAÇÃO SOCIAL - Relações Interpessoais e Comportamento Social

Capítulo V - Interação entre duas pessoas

FICHAMENTO REALIZADO POR ANA TERSE SOARES

Sobre o autor:

Michael Argyle - morreu em 2002 aos 77 anos e é um dos mais conhecidos psicólogos sociais do século XX. Passou a maior parte da sua carreira na Universidade de Oxford. É um dos poucos psicólogos britânicos que ganharam uma reputação internacional, foi pioneiro no estudo científico do comportamento social.

Objetivos do capítulo:

Partindo da necessidade de modelos conceituais, o capítulo preocupa-se em detalhar sequências de interações que ocorrem em díades (entre duas pessoas).

Argumentação Central:

Introdução a métodos

> Conceitos e Modelos

Para Argyle, cada pessoa vem para o encontro como um resultado de motivações que podem ser satisfeitas por acontecimentos no encontro. Embora os interatores percebam o comportamento do outro, principalmente através dos canais auditivo e visual, se encontram numa situação de classe limitada, definida pela cultura - onde existem regras definidas e relações de papéis prescritas entre eles programando com antecedência, em parte, o seu comportamento.

Uma abordagem inicial à questão pode ser qualificada como modelo S-R (Sequências de Respostas). A interação é apresentada como uma série de respostas alternadas entre os interatores e pode ser vista como um processo casual - considera-se aqui tanto respostas verbais e não verbais e a relação entre elas.

Argyle chama atenção para dois tipos de sequências de interesse específico: o efeito do reforço e o fenômeno da imitação e da reciprocidade.

Uma segunda abordagem é a consideração de um padrão de comportamento emitido por interator, como um todo: tendo o modelo de habilidade social, que qualifica a interação social como uma habilidade motora em série, pautados em certos processos cognitivos.

Apontando que não é possível fornecer uma avaliação completa da interação considerando apenas uma pessoa de cada vez, ressalta que o modelo conceitual utilizado é o de um sistema em equilíbrio, onde para a interação ocorrer, deve existir um certo grau de coordenação e entrosamento entre os interatores, que poderá evoluir à um padrão estável de interação onde o caráter desse padrão, constituirá relação entre elas.

A despeito da contribuição desses modelos e do próprio esquema conceitual tomado como referência, Argyle ressalta que esse esforço teórico não é completo suficiente para qualificar e descrever o desenvolvimento detalhado de uma longa sequência de interação, por exemplo.


> Métodos de Pesquisa

Ressalta que alguns problemas gerais relacionados aos métodos de pesquisa são discutidos em capítulos anteriores e que neste capítulo V, estará preocupado com o problema específico da pesquisa com díades, apontando alguns caminhos e algumas implicações a partir de cada método:

1) Análise estatística de sequências de interação normal: análise de conteúdos verbais e paralinguísticos dos primeiros cinco minutos de entrevistas de psicoterapias.

2) Técnicas experimentais usando a interação real na qual um dos interatores é um cúmplice: uma pessoa simulando ou "forçando" certas situações ao longo da interação, o que para Argyle, é um processo limitado na medida em que este procedimento não permite as ocorrências de interação genuínas.

3) Técnicas experimentais usando a interação real e dos sujeitos: a partir de interações genuínas.

4) Técnicas que eliminam a interação: criticadas inicialmente.

5) Métodos projetivos: usados mas com algumas limitações também.

Sequências de Respostas

Uma maneira inicial para entender a interação é concebido pelo autor como uma cadeia de respostas, cada interator reagindo ao ato social mais recente do outro, o que leva ao estudo de sequências empíricas simples de atos sociais.

Argyle considera o modelo S-R, com um grau considerável de adequabilidade, no sentido de se prever "próximos atos" se conhecemos atos anteriores. Em teoria, aponta que dessa forma seria possível programar um computador para uma simulação de interação social, mas considera a percepção do indivíduo um elemento fundamental neste processo.

Para Argyle, a partir do conteúdo verbal de enunciados, é possível destacar algumas sequências regulares, como as relacionadas aos tópicos, tipos de enunciados e duração da fala.

Sobre o estudo de S-R a partir de elementos não-verbais, o autor destaca que vários estudiosos apontam que existe uma espécie de "dança de gestos" entre interatores - no sentido de resposta contínua aos movimentos corporais uns dos outros. Destaca a obra de Condon e Ogston (1966/1967) sobre a "sincronia interacional entre falante e ouvinte" e a pesquisa de Kendon (1968), que distinguiu as seguintes sequências: (1) refletir os movimentos como num espelho, (2) comportamento de escuta, (3) movimento análogo de fala. Argyle também considera sequências de S-R onde um R é verbal e outro não.

Sustentando a acepção de que o modelo S-R precisa ser desenvolvido, o autor destaca que a principal contribuição ao modelo é a motivação de cada interator que leva a que ele não responda apenas ao outro, mas inicie, ele próprio, uma série de atos sociais integrados.


> Encaixe de Respostas: Imitação e Reciprocidade

Para o autor, ao longo da interação social, é comum que um ato de "A" seja seguido por um outro ato semelhante de "B", o que ele qualifica como 'encaixe de respostas', neste sentido, apresenta algumas das principais formas de ocorrência do encaixe de respostas:

- Extensão de enunciados: se "A" utiliza longos enunciados, "B" também utilizará. O que vale também pra pequenos enunciados.

- Interrupções e Silêncios: descobriu-se que se "A" utiliza pausas ou interrupções nos seus enunciados, é muito provável que "B" também tenha o mesmo comportamento.

- Tipo de enunciados: enunciados que levam a enunciados semelhantes, piadas levam a piadas, por exemplo.

- Palavras usadas: descobriu-se que havia uma correlação positiva entre o uso de palavras entre dois interatores.

- Gestos e postura: descobriu-se que interatores frequentemente envolvidos adotam posturas congruentes e que esse tipo de comportamento é mais comum quando duas pessoas têm uma atitude favorável recíproca.

- Informação: identificou-se que se um interator está programado para revelar mais sobre si, a outra pessoa fará o mesmo.

- Outras áreas: para o autor, é muito provável que ocorra um 'encaixe de respostas' semelhantes em relação ao estado emocional (contágio emocional).

Para o autor, dois processos distintos podem ser responsáveis pelo 'encaixe de respostas': imitação e reciprocidade.

A imitação, é geralmente utilizada em referência à situação na qual "A" copia alguma resposta de "B". Argyle aponta que muitos estudos sobre imitação mostraram que ela ocorre em determinadas condições específicas:

a) quando o imitador é recompensador por esse comportamento;

b) se ele é recompensado pelo modelo;

c) se o modelo tem grande poder ou status;

d) se percebe que o modelo foi recompensado pelo comportamento em questão;

e) se o imitador é semelhante ao modelo;

f) se não há outros guias claros para o comportamento do imitador.

Adicionalmente, é ressaltado pelo autor que processos cognitivos mais complexos podem interferir na resposta de imitação relativamente elementar.

Sobre a reciprocidade, afirma que foi observada primeiramente pela antropologia como uma característica da vida em sociedades primitivas: se "A" faz algo para "B", "B" geralmente responde pelo desempenho de algum ato equivalente para "A".

A partir de Sahlins (1965) distingue três graus de reciprocidade: (1) reciprocidade generalizada (altruísta), (2) reciprocidade equilibrada ou econômica e (3) reciprocidade negativa - cada um tenta receber mais do que dá. Afirma ainda que, os graus de reciprocidade dependem do grau de intimidade entre os interatores.

Sobre as condições sob as quais é mais provável que a reciprocidade ocorra, destaca:

a) intimidade de relação;

b) status relativo; e

c) espontaneidade de cada ato.

Sobre qual seria a explicação para a reciprocidade, Argyle afirma, a partir de Gouldner (1960), que há uma norma social que exige reciprocidade; uma segunda linha de explicação é em termos das futuras recompensas que cada participante espera receber do outro. Mas, sendo assim, como poderia explicar a reciprocidade altruísta? Afirma que pode ser consequência de norma de reciprocidade, mas envolve um grau adicional de generosidade e espontaneidade.

> Os efeitos do reforço

Para o autor, uma das sequências mais estudadas durante a interação é o efeito de "A" recompensar ou punir algum aspecto do comportamento de "B", o que contribuiu para o avanço dos estudos associados aos efeitos de reforço. Argyle aponta ainda que, experiências conduzidas em condições naturais, geralmente com reforçadores não-verbais, podem ser casos de condicionamento operante.

Adicionalmente, aponta que uma característica importante da resposta de "reforço" é a extensão em que ela encoraja a fala posterior. Ressalta que o estudo a partir de algumas experiências, revelam ainda que, o reforçador usado, o status e a personalidade dos sujeitos, são elementos fundamentais para identificar as condições sob as quais essa forma de influência é maior. Argyle conclui que o condicionamento operante do comportamento verbal (e provavelmente de outros tipos também), pode ser decisivo de influência em díades.


Análise do comportamento de um Interator


> O modelo de habilidade social

Ao fim do tópico sobre modelos S-R, Argyle afirma que ela é inaquedada para a análise das interações pela necessidade de levar em conta a sequência relacionada e intencional de respostas sociais emitidas por cada ator. Dessa forma, apresentará o modelo de habilidade motora (desenvolvida por Argyle e Kendon, 1967), onde sugere que um indivíduo comprometido na interação está envolvido num desempenho que exige certas habilidades, onde os objetivos de interação estão relacionados porém, com motivações mais básicas no ator. O que Argyle ressalta é que, as pessoas querem que as outras respondam de maneira associativa, submissa ou dominante, segundo sua própria estrutura motivacional.

Partindo de que as experiências sobre "condicionamento verbal operante" podem ser qualificadas a partir dos efeitos de feedback, o autor apresenta o modelo como ponto de partida a partir de dois sentidos principais:

1) acolhendo os processos cognitivos específicos durante as interações (como 'colocar-se no papel do outro');

2) considerando que outros interatores estão jogando o mesmo jogo, e que deve existir uma sequência de respostas para que a interação social se estabeleça.

Dessa forma, inclui dentro do modelo de habilidade, afirmando que um dos objetivos da interação é a auto-apresentação, ou seja, criar certas impressões para os outros.

DÍADES COMO SISTEMAS SOCIAS

> A teoria dos jogos e os modelos de díades

Retornando aos modelos de interação que se estabelecem numa díade, Argyle afirma que, muitas investigações se esforçaram em construir modelos teóricos do ativo de trocas recompensa-custo em díades, incorporando experiências em termos de jogos. O que alguns autores fizeram então, foi favorecer representações de situações sociais onde o comportamento resultante é previsível. Neste sentido, grande parte das pesquisas foi gerada pela abordagem da teoria da troca, que segundo ele, acrescenta uma contribuição substancial para os estudos sobre interação:

1) desenvolvimento de cooperação e confiança;

2) estratégias interpessoais;

3) troca de recompensas levando à influência.

A despeito da contribuição teórica para o campo, Argyle afirma que o modelo conceitual da teoria da troca também não se adequa ao fenômeno da interação social, aponta que a avaliação de tipos de interação feita pela teoria foram incompletas e enganosas.

> Processos de equilíbrio em díades

Em alguns dos jogos experimentais discutidos ao longo do conteúdo, verificou-se que em díades existia um padrão estável de comportamento satisfatório para ambos e considerando o crescimento dessas relações cooperativas, Argyle enumerou algumas maneiras pelas quais a coordenação parece ser necessária para que a interação seja possível:

a) o conteúdo da interação;

b) dimensões de relações;

- relação de papéis

- intimidade

- intimidade

- dominação

c) duração da fala;

d) sequência de comportamento

e) correspondência não-verbal;

f) tom emocional;

FORMANDO A RELAÇÃO

> O primeiro encontro e o desenvolvimento das relações

Utilizando um exemplo americano de quando duas pessoas se encontram pela primeira vez, Argyle apresenta alguns elementos que constituem os encontros iniciais, que podem evoluir para relações sociais de vários graus de intimidade e tipos diferentes.

Sobre os determinantes de amizade, afirma que geralmente exige mais que uma troca de recompensas através da interação, assim, duas pessoas gostarão uma da outra se a interação entre elas for recompensadora: a satisfação de impulsos sociais durante a interação e a existência de uma relação muito mais cooperativa que conflitiva.

> Frequência de interação

A proximidade física, criando uma frequência constante de interação, leva à polarização de atitudes interpessoais, e é mais provável que elas se tornem favoráveis do que desfavoráveis. O efeito da proximidade é maior quando várias pessoas se reúnem pela primeira vez, e na história inicial de um grupo, segundo o autor.


> Similaridade

Alguns estudos sobre amigos, identificaram a similaridade entre suas atitudes, personalidades e características demográficas, embora o efeito da similaridade de traços de personalidade e da motivação, na escolha sociométrica seja menos direta.

Para Argyle, a similaridade leva à amizade se duas pessoas possuem interesses e situação de vida semelhantes e estão numa relação de forma cooperativa. Ressalta ainda, que a amizade não é o único tipo de relação positiva possível entre duas pessoas e utiliza o casamento também como exemplo.

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