CAPITULO 4 - A ALIENAÇÃO DA INTERAÇÃO
FICHAMENTO REALIZADO POR TERESA PAULA COSTA
Sobre o autor:
Erving Goffman, doutor em Sociologia e Antropologia pela Universidade de Chicago, tornou-se um dos estudiosos mais citados nas Ciências Sociais e Humanas nas últimas décadas. Dedicou-se especialmente ao estudo da interação social no dia-a-dia, com destaque ao comportamento em lugares públicos.
Argumentação Central:
O tópico da conversa pode formar o principal foco da atenção cognitiva do indivíduo e o orador de sua atenção visual.
O envolvimento com a interação tem um caráter vinculador e hipnótico, no entanto o indivíduo pode se engajar simultaneamente em outras atividades dirigidas a um objeto – envolvimentos laterais – gerenciando esses envolvimentos de forma abstraída, sem que o distraia de seu foco de atenção principal.
Obrigações de envolvimento
O sistema de etiqueta social mantém a ordem cerimonial. Através dela a capacidade do indivíduo de ser levado por uma conversa se torna socializada, assumindo uma carga de valor ritual e função social.
Coerções sociais definem as escolhas do foco principal de atenção, dos envolvimentos laterais e a intensidade do envolvimento.
As ações do indivíduo precisam acontecer para satisfazer suas obrigações de envolvimento, sem agir exatamente para satisfazer essas obrigações.
O indivíduo deve manter seu envolvimento e agir de forma a garantir que os outros mantenham o deles. É o papel de participante.
As tendências do orador de diminuir suas expressões e a dos ouvintes de aumentar seus interesses formam a ponte que as pessoas constroem entre elas.
As formas de alienação
O envolvimento, provavelmente, em qualquer momento pode levar o indivíduo a alguma forma de alienação.
As formas de alienação constituirão um desvio de comportamento de um tipo que pode ser chamado de “envolvimento errônio”
Formas de envolvimento errônio:
Preocupação externa: Focar a atenção principal em algo que não está sendo discutido no momento.
- O tipo de desculpa que os outros sentem que o indivíduo tem pela preocupação principal define o grau de ofensa dos outros participantes.
- O ato da desculpa tem relação com o respeito entre os participantes e com as regras morais que tornam as pessoas socialmente e interativamente sociáveis.
- A sociedade torna-se segura através das regras e dos gestos reafirmados
Consciência de si mesmo: O indivíduo dá atenção a si mesmo enquanto participante da interação, colocando foco de atenção em si ao invés no conteúdo da conversação. A imagem e a avaliação de si, durante a interação, é o que interessa. A ameaça da perda da definição da imagem é a preocupação.
Consciência da interação: Preocupação maior com a forma em que a interação está ocorrendo, ao invés de envolvimento espontâneo com o tópico da conversação.
Consciência dos outros: Um outro participante torna-se objeto de atenção.
- O outro faz com que o indivíduo tenha consciência deles e a preocupação dirige-se para fingir através de gestos o que o outro esperava dele como comportamento.
- Afetação/afetados – Pessoas atentas à impressão que estão causando, preocupando-se em controlar a avaliação que será feita – posando.
- Insinceridade/insinceros – Pessoas preocupadas em controlar a impressão que será formada em sua atitude e sobre si – sem pose.
- Imodéstia/imodestos – Indivíduos parecem louvar a si mesmos verbalmente.
- Envolvimento exagerado: A pessoa se envolve exageradamente no tópico da conversação, dando ao outro a impressão de não autocontrole dos seus sentimentos e ações. O envolvimento com a conversa passa a um envolvimento com o orador. Assim, momentaneamente, ela incapacita-se enquanto participante da interação.
A atividade exagerada é a alienação de outra.
Sobre o caráter repercussivo das ofensas de envolvimento
Testemunhar uma ofensa contra obrigações de envolvimento gera a mudança da sua atenção da conversação para a ofensa ocorrida. O ofensor pode sentir envergonhadamente consciência de si.
Ter consciência de si ou dos outros é precisamente uma ofensa contra as obrigações de envolvimento.
O fingimento do envolvimento
O indivíduo obrigado a participar de uma conversa, quando não capturado por ela, provavelmente, fingirá aparência e envolvimento.
Quando as obrigações de envolvimento não podem ser negligenciadas e nem realizadas espontaneamente, há tipo de desconforto na conversação.
Quando o indivíduo está desconfortável no encontro pode gerar desconforto para os outros.
O fingimento tem um efeito amortecedor sobre as conseqüências repercussivas do envolvimento errôneo na garantia de não gerar descontentamento nos outros participantes.
O motivo do indivíduo alienado em maquinar o envolvimento interfere no julgamento que se terá sobre ele.
A pessoa pode estar interessada no que pode ganhar ao levar os outros acreditarem que capturaram sua atenção. Ocupa-se com a tarefa de passar impressão de estar ocupado com a conversa.
As formas de não esconder bem o envolvimento errôneo diplomaticamente escondido constituem, então, os sintomas do tédio. Alguns deles sugerem ausência de esforço para terminar ou continuar o encontro ou sua participação oficial. Outros sintomas funcionam como um aviso diplomático, sugerindo término da participação.
Manifestar sinais de tédio é uma inconsideração.
Há a ausência de uma obrigação de fingir envolvimento. Também há outra que induz o indivíduo a não fingi-lo muito bem.
O indivíduo constrangido pode tentar esconder de si mesmo este estado convencendo-se estar entediado.
Se um participante não conseguir manter a interação funcionando, outros participantes terão que se ocupar da parte dele. É a função de ignição = manter a interação funcionando. Participantes diferentes, em momentos diferentes da interação podem/vão realizá-la.
Generalizando o esquema
1. Contexto de obrigações de envolvimento
- Lidar com situações em que todos estejam oficialmente obrigados a manterem-se como participantes da conversação e a manter envolvimento espontâneo é uma limitação.
- O contexto total em que o indivíduo se encontra define as obrigações de envolvimento.
- Nas situações em que o envolvimento principal dos presentes é investido por meio de uma ação física, a conversação, se ocorrer, será um envolvimento lateral, com duração definida pelas exigências da ação desempenhada.
- Existem situações em que o indivíduo pode aceitar uma alocação diferente de envolvimento daquela esperada para os outros e os outros podem ter um padrão de envolvimento esperado e apropriado para ele.
- Participantes completos são aqueles de quem se espera fala e escuta.
- Especialistas não participantes são aqueles cujo trabalho é se mover de forma discreta e cuidar de algumas das mecânicas da ocasião. Demonstram respeito pela ocasião ao tratá-la como um envolvimento lateral.
- Quanto mais participantes houver para manter a ocasião de larga escala menos ela dependerá de qualquer deles.
Pseudoconversações
- São interações não faladas, em que os símbolos trocados são gestos estilizados. São estruturalmente semelhantes às interações faladas, mas com mobilização de capacidades relacionadas ao controle muscular para o desempenho da interação.
Interação desfocada
- Indivíduos em presença visual e auditiva uns dos outros, participando do mesmo contexto, sem estarem em interação direta, ligados por um foco de atenção compartilhado.
- Todos os tipos de envolvimento errôneo ocorrem durante a desfocada.
- Parece que há menos consciência de si mesmos em sua capacidade de participantes do que na interação focada.
- A interação desfocada parece não exigir o mesmo ajuste que a alienação e o desconforto exigem em interações focadas.
Conclusão
Muitos encontros sociais do tipo conversacional possuem a exigência sobre a capacidade do indivíduo enquanto participante da interação.
Importante saber se o estatuto ou modos do indivíduo tendem a prejudicar ou ajustar a manutenção do envolvimento espontâneo na interação.
Os indivíduos podem derivar um senso firme de realidade dos encontros sociais que se envolvem espontaneamente.
Quando ocorre um incidente e o envolvimento espontâneo é ameaçado, a realidade é ameaçada. O sistema social que é criado em cada encontro é desorganizado e os participantes se sentirão desgovernados, irreais e anômicos.
Pessoas obedientes às regras de conduta sociais estão prontas para interação falada – necessária para a sociedade realizar-se.
Eliminou-se as formas pelas quais o indivíduo pode perder o passo com o momento sociável.
Deverá existir o que aprender sobre a forma pela qual o indivíduo pode ser alienado de coisas que ocupam muito mais o seu tempo.
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