quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Questões desenvolvidas pelos alunos relacionadas ao texto:

MARWICK, A.; BOYD, D. I tweet honestly, I tweet passionately: Twitter users, context collapse, and the imagined audience. Online: disponível em http://nms.sagepub.com/content/early/2010/06/22/1461444810365313



> Marwick e Boyd demonstram o entendimento que se tem da audiência de sites de redes sociais é limitada. Geralmente, o usuário que possui um perfil em um site de rede social tem uma audiência imaginada e esta pode ser planamente diferente da audiência "real". Dada a importância que o outro tem sobre a construção de uma identidade, de que modo esse audiência imaginada ingere sobre o processo de construção de uma identidade?


> Tem se tornado comum no Facebook o compartilhamento de imagens humorísticas postadas por perfis construídos justamente com a intencionalidade de compartilhar esse tipo de conteúdo. Algumas imagens postadas por esses perfis chegam a ser redistribuídas no Facebook por milhares de usuários. Esse tipo de compartilhamento em massa é resultado dessa audiência imaginada? Ou melhor, o fato de um arquivo, no caso uma imagem, ser compartilhada repetidas vezes faz com que o individuo acredite que aquele é um conteúdo que será facilmente aceito e por isso ele também compartilha?


> "Twitter is used this way by many people to establish a presence online." Em um universo (comunidade virtual) onde a maioria utiliza de perfis fakes, como compreender a presença online?


> Poderíamos falar de autecidade de perfis fakes?


> O texto fala "create and market a ‘personal brand’" Num universo de identidade fluída, poderia se falar de marca pessoal? Se a qualquer momento o indivíduo pode alterar sua identidade virtual... A alteração também influenciaria na sua identidade "real"?


> Conforme o texto desenvolve, o conceito de autenticidade e inautenticidade dependerá do discurso e do contexto em que algo ocorre. Por um lado, para os usuários do Twitter esse entendimento varia ao mesmo tempo em que ele aparenta ostentar uma imagem de veracidade/autenticidade apesar dos twitteiros lançarem mão de estratégias de gerenciamento de impressão como da auto-censura e equilíbrio. Com esse grau de variação acerca da definição do que vem a ser autênctico, é possível falar de autenticidade seja em ambientes digitais, seja nas interações face-a-face diante do que foi visto sobre gerenciamento de impressão?


> A diversidade de potenciais leitores no Twitter é capaz de romper com a capacidade do emissor em variar sua auto-apresentação baseada em audiência?


> Visto que a questão do gerenciamento de impressão em ambientes digitais leva em consideração a audiência alvo, o controle sobre o resgate das informações sobre si mesmo exerce influência no processo de reconstruir sua própria identidade digital?


> A autenticidade da auto apresentação pode estar firmada sobre a importância que se dá a audiência idealizada ou na possibilidade de resgate das informações como meio de gerencia-la?


> Pesquisar como as pessoas formam impressões sobre os outros será incluir nesse processo a consideração de como cada um usa suas referências e quais são elas? Será preciso entender as expectativas individuais e coletivas associadas à compreensão do outro?


> Marwick e Boyd afirmam, no artigo, que a necessidade que os indivíduos possuem de diversificar as apresentações de si (self-presentation) são complexificadas pelo crescimento das mídias sociais, que levam ao colapso a existência dos múltiplos contextos e colocam juntas audiências diferentes. A partir dessa afirmação, problematizamos: Será que com a existência dos atuais aplicativos que permitem o cruzamento e recuperação das informações postadas em sites de redes sociais diferentes, essa afirmação permanece válida? Não estaríamos convergindo para uma única forma de self-presentation, à medida que tomamos consciência desses aplicativos e do diálogo que eles estabelecem entre si, buscando, portanto, uma coerência e unicidade do discurso/comportamento, independentemente das audiências supostamente direcionadas em cada ambiente?


> Em momentos diferentes, os autores discutem que o e-mail é geralmente usado para fins privados enquanto o twitter é primordialmente público e questionam se o espaço público agora é sinônimo de “espaço comercial”. Nesse sentido, questionamos: nesse contexto de interação digital, o que pode ser considerado público e privado? Tais conceitos não precisariam passar por um esforço de ressignificação?


> Apesar de na CMC ser possível a edição de mensagens, a seleção e a conveniência na escolha do conteudo a ser emitido na busca por uma desejabilidade social, que estratégias de auto-apresentação podem ser prejudicadas ou alteradas através desses "reparos" nas IS por CMC?


> Como a pontuação e a paralinguagem podem ser utilizadas como estratégias de gerenciamento de impressões em CMC?


> O usuário médio de sites de redes sociais entende a existência de diversas audiências distintas? A necessidade da “auto-apresentação variável” é algo realmente observada pelos usuários?


> O acesso a perfis de outros indivíduos em “segundo grau” na rede (amigos de amigos) conforma a percepção do que é a audiência potencial?


> Interessante notar como a noção de autenticidade nos ambientes digitais com uma audiência múltipla e incerta torna-se uma noção fragilizada. Em que medida faz sentido a busca por autenticidade na sociedade de consumo marcada, por um lado pelo culto às celebridades e pela adesão à estilos pre-formatados, e por outro lado com potencialidades inéditas para a mistura, diversidade e estilos híbridos que não se encaixam mais nas velhas categorizações e esteriótipos de muitas teoriais sociais e psi?


> Interessante como a auto-censura parece estar associada à forma de apropriação dos ambientes digitais como mais público ou privado. Que tipo de estrategias e com base em quais valores os diferentes tipos de usuários estão manejando as tensões entre público e privado em ambientes digitais como Twitter? O carater híbrido do ciberespaço e da "networked audience" redefine os limites entre público e privado ou estaria apenas exigindo nocas formas, mais hibridas, de gerenciamento de impressões? Em outras palvaras, se as considerações de Goffman apontavam um papel decisivo da ordem social na definição das estratégias hegemônicas de gerenciamento das impressões e apresentação do self, podemos nos indagar até que ponto este formato híbrido de audiência está mudando os valores e normas sociais mais amplas que sustentam as práticas sociais ou apenas exigem a adequação à norma em novos ambientes? Podemos arriscar dizer que ambos processos ocorrem simultaneamente, mas interessante pesquisar, na atualidade, quais singularidades deste processo de mudança.


FICHAMENTO - Faceplant: Impression (Mis)management in Facebook Status Updates. (2010)


POR FERNANDA CARRERA


Sobre os autores: Vladimir Barash é doutor em Ciências da Informação pela Cornell University. Seu interesse de pesquisa aborda mídias sociais e gerenciamento de impressão. Nicolas Ducheneaut é membro do laboratório de pesquisa em Ciências da Computação da Universidade de Palo Alto e doutor pela Universidade da Califórnia, Berkeley. Sua pesquisa tem como foco a análise das interações sociais em ambientes online, assim como o desenvolvimento de ferramentas de análise específicas para este tipo de interação. Ellen Isaacs é pesquisadora da Universidade de Palo Alto e doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade de Stanford. Por fim, doutora em Interação Homem-Computador, Victoria Bellotti é também pesquisadora da Universidade de Palo Alto, sendo conhecida por suas pesquisas sobre gerenciamento de informações pessoais através do uso da tecnologia.


Objetivos: Desenvolver um aplicativo de análise específico para capturar as impressões “given” e “given off” dos usuários do Facebook (a partir das suas atualizações).


Argumentação central: De acordo com os autores, os usuários do Facebook em geral alcançam sucesso em apresentar uma imagem positiva de si mesmos, mas são apenas parcialmente conscientes de como eles estão sendo vistos pelos outros, além de suberestimarem a força da impressão que promovem. Isso é relevante quando se pensa no gerenciamento do self nestes ambientes, uma vez que parece ser um risco projetar um inflado senso de self em um mundo no qual os gerenciamentos e as impressões acontecem a partir de microatualizações.

Usando um enquadramento de análise baseado em Goffman, os autores interpretam as atualizações do Facebook como “performances”, representações, dando à platéia a chance de formar uma impressão a respeito do usuário, sendo essa impressão pretendida ou não. No entanto, de acordo com o artigo, enquanto Goffman traz uma metáfora bem estabelecida para se entender o gerenciamento de impressão, ainda são vagas as dimensões que constituem, na prática, a impressão. Isto é, Goffman não forneceu uma lista de táticas que as pessoas usam durante o gerenciamento da fachada, ou uma taxonomia da formação da impressão.

Sendo assim, os autores realizam uma revisão de literatura que demonstra como outros pesquisadores buscaram definir estas táticas, e adotam para a sua pesquisa o trabalho de Glaster (1998), que constrói categorias binárias para capturar o “valor social positivo” – o objetivo dos usuários – versus o valor negativo, visto como a falha do gerenciamento de impressão. São elas: Legal/Não legal; interessante/maçante; alto-astral/depressivo; autodepreciação/autovalorização; apreciativo/crítico.

O aplicativo “Avalie o seu feed de notícias” apresenta aos usuários uma lista de posts do seu Feed de notícias, incluindo a sua própria e mensagens dos amigos. Cada post foi acompanhado
por uma imagem do usuário que postou, o nome da pessoa e o texto
do post. Não foram exibidos “likes” ou comentários dos post, de modo que não influenciasse na percepção das pessoas. Abaixo de cada post foi colocado um conjunto de cinco barras, uma para cada uma das cinco dimensões de gerenciamento de impressão, além de uma caixa de texto pedindo um adjetivo para descrever a forma como a pessoa parece no post.

De acordo com os resultados, há uma diferença entre as impressões que as pessoas acreditam produzir nos outros e as impressões que elas formam das outras pessoas. Além disso, pôde ser percebido que a dimensão mais relevante para os posts dos amigos é a interessante/maçante, mostrando que ver muitos posts interessantes ou legais na timeline pode moldar a percepção do invidíduo sobre o que é uma fachada que obteve sucesso na sua construção. Outro resultado interessante foi a respeito das experiências subjetivas no Facebook. Dois comentários foram bastante comuns: o fático “haha” ou “hilário” e aqueles que oferecem simpatia, como “isso é terrível” ou “coitado de você”. As risadas ilustram como ser engraçado é um dos aprovados atributos sociais que os participantes querem reforçar no contexto do Facebook.

Como conclusão, os autores acreditam que os resultados da pesquisa estão bem alinhados com a percepção de que as atualizações no Facebook poder ir mais longe do que o esperado, quando se pensa em gerenciamento de impressão. Isso porque, também, as pessoas acreditam acreditam que seus posts expressam mais valores positivos do que seus amigos percebem. Isto é, em um mundo de
contato permanente, onde as pessoas formulam de forma rápida e duradoura as impressões sobre os outros, o resultado apresentado pelo artigo mostra que os usuários, agora mais do que nunca, precisam traçar uma linha tênue entre as impressões que transmitem e, inadvertidamente, emitem na construção da sua fachada.

Questões desenvolvidas pelos alunos relacionadas aos textos:

ELLISON, Nicole; HANCOCK, Jeffrey; TOMA, Catalina. Profile as promise: A framework for conceptualizing veracity in online dating self-presentations. 2011.


BARASH, Vladimir; DUCHENEAUT, Nicolas; ISAACS, Ellen; BELLOTTI, Victoria. Faceplant: Impression (Mis)management in Facebook Status Updates. Proceedings of the Fourth International AAAI Conference on Weblogs and Social Media, 2010.


> A experiência de Barash et all mostrou que no Facebook as atualizações classificadas como "cool" e "entertaining" prevalecem. Os autores sugerem que essas dimensões sejam mais relevantes para um face work de sucesso. A partir desses dados é possível pensar que no Facebook prevaleçam relações mais frívolas, onde os participantes se engajam apenas nas atualizações engraçadas e menos em atualizações mais sérias ou mesmo, mais profundas?


> Além disso, os autores sugerem que essas dimensões sejam mais relevantes para um face work de sucesso, ao mesmo tempo em que podem soar arrogante. Se o contexto for outro, por exemplo, se ao invés de amigos no Facebook fossem analisados comentários em um blog de política onde os usuários se conhecem e estabelecem diálogos, os valores mais relevantes para o face work alteram de que modo?


> As possibilidades abertas pela comunicacao via fotos, webcam e comunicadores instantâneos integradas aos perfis nas redes sociais podem ser, ao mesmo tempo, complementos não verbais nas CMC e também mais elementos manejáveis na apresentação do self e no gerenciamento das impressões? Em que medida podemos dizer que estes elementos dificultam a apresentação do self idealizado ou tornariam as idealizações mais modestas?


> Em que medida os acordos de permissão para as manobras na apresentação do self estão vinculados às formas de apropriação do ciberespaço como espaço público ou privado? Considerando a gradativa transparência da internet nas relações sociais, em quais aspectos podemos imaginar as mudanças no que "communal common ground" que suporta a apresentacao do self nas redes sociais?


> A experiência de Barash et all mostrou que no Facebook as atualizações classificadas como "cool" e "entertaining" prevalecem. Os autores sugerem que essas dimensões sejam mais relevantes para um face work de sucesso. A partir desses dados é possível pensar que no Facebook prevaleçam relações mais frívolas, onde os participantes se engajam apenas nas atualizações engraçadas e menos em atualizações mais sérias ou mesmo, mais profundas?


> Além disso, os autores sugerem que essas dimensões sejam mais relevantes para um face work de sucesso, ao mesmo tempo em que podem soar arrogante. Se o contexto for outro, por exemplo, se ao invés de amigos no Facebook fossem analisados comentários em um blog de política onde os usuários se conhecem e estabelecem diálogos, os valores mais relevantes para o face work alteram de que modo?


> Em online dates, os indivíduos constroem versões do self que consideram mais atrativas. O que seria levado em consideração no momento de escolha de um profile fake?

> O que seria aceitável ou não nas formulações de perfis fakes?
Que critérios seriam utilizados numa comunidade virtual? Como seriam aplicados?


> A internet oportuniza a utilização de um novo tipo de comunicação escrita onde a linguagem é expressa de forma que a interação social no espaço digital é utilizada para representar o self como uma identidade eletrônica ou cyberself?


> A identidade online tem que permanecer constante na sua apresentação para ser reconhecida por outros interagentes. O sentido de self amplificado pela possibilidade da múltipla apresentação não causaria uma fragmentação desta mesma identidade?


> Qual a relação estrita entre auto-censura, produção de público e diálogo no Twitter com autogerenciamento? Existe uma racionalidade geral?


> “Sometimes it’s not truthful, but it’s how they see themselves” (Ellison et al., 2006, p. 428). Exite um espaço claro para as pessoas entre o que são e como se vêem? As interações se dão com o que as pessoas são, com o que elas apresentam ou com o que elas pensam de si? O autogerenciamento conduziriam com que aspecto desse a interação ocorre?


> O perfil é visto como promessa a partir da análise do desvio?


> A autoimagem é vista de certa forma como dúvida pelo outro?


> Até que ponto é consciente esse contrato psicológico? Ele deixa de ser válido caso não seja?



FICHAMENTO - Faceplant: Impression (Mis)management in Facebook Status Updates. (2010)

BARASH, Vladimir; DUCHENEAUT, Nicolas; ISAACS, Ellen; BELLOTTI, Victoria. Faceplant: Impression (Mis)management in Facebook Status Updates. Proceedings of the Fourth International AAAI Conference on Weblogs and Social Media, 2010.


POR THAIS MIRANDA


Sobre os autores: Vladimir Barash é pesquisador da Cornell University, NY, USA. Já Nicolas Ducheneaut, Ellen Isaacs e Victoria Bellotti são pesquisadores do Palo Alto Research Center, localizado na Califórnia, USA.


Objetivo do paper: Analisar uma forma de gerenciamento de impressão mais fluida, a partir das atualizações do status no perfil do Facebook. A proposta do paper é a de - através de dados coletados com um aplicativo desenvolvido para este fim – coletar tanto as impressões emitidas (given) quanto as transmitidas (given off) por um usuário do Facebook, à medida que seu status é atualizado.


Argumentação Central


A ideia central dos autores é a de que, enquanto os usuários do Facebook geralmente obtêm sucesso ao apresentar uma imagem positiva deles próprios, eles também tendem a subestimar a força das impressões que cultivam e estão apenas parcialmente conscientes desse processo.


Na introdução do trabalho, os autores apresentam os diversos elementos que os usuários dos sites de redes sociais utilizam para o gerenciamento de impressões. No caso do Facebook, frases, fotos, informações pessoais e comentários dos amigos são usados nesse sentido. Segundo os autores, a crescente consciência de que podemos saber sobre cada minuto das ações dos nossos amigos do Facebook – inclusive por conta do redirecionamento entre sites de redes sociais distintos – pode implicar em interessantes formas de nos relacionarmos com os outros e de entendermos a nós mesmos.


Ancorados pelas teorias de Goffman acerca de gerenciamento de impressões, enquadramentos e performance, Barash, Ducheneaut, Isaacs e Bellotti afirmam que em comunidades tais quais Twitter e Facebook, os usuários possuem consciência do processo de gerenciamento de impressões a partir das informações emitidas (given). Entretanto, ressalta-se que Goffman interessava-se pelos momentos em que os indivíduos se “desligavam” desse estado de consciência e cometiam pequenos “deslizes”, a partir de informações transmitidas (given off). Os autores discutem que, no Facebook, esses momentos (breakdowns) são comuns e se propõem a estudá-los através das micro atualizações dos perfis do Facebook.


Medindo o gerenciamento de micro impressões


Barash, Ducheneaut, Isaacs e Bellotti discutem que se por um lado, o trabalho de Goffman oferece uma metáfora interessante para o entendimento do gerenciamento de impressões (performance e audiência), por outro permanece vago no que diz respeito à dimensão prática que constitui tal gerenciamento. Nesse sentido, o trabalho cita outros autores - Jones e Pittman (1982), McClelland (1988) e Leary (1995) - que tentaram preencher essa lacuna deixada por Goffman, explicitando táticas usadas durante o processo de construção da fachada.


Segundo Barash, Ducheneaut, Isaacs e Bellotti, nenhuma das classificações propostas pelos autores acima mencionados, entretanto, puderam ser aplicadas nas micro-atualizações do Facebook, por conta das particularidades do contexto. Dessa forma, influenciados por Goffman e suas ideias sobre a construção da fachada (conjunto de atributos positivos acerca de si) os autores fizeram um estudo piloto com 20 usuários e propuseram suas próprias dimensões de perfis no Facebook, com o intuito de compreender o gerenciamento de impressões ocorrido ali. São elas: (1) Legal/Chato; (2) Divertido/Entediante; (3) Entusiasmado/ Depressivo; (4) Depreciador de si/ Engrandecedor de si e (5) Apreciador/Crítico.


Segundo o texto, a intenção dos pesquisadores não foi a de suprir todas as possibilidades de categorizações de fachadas existentes no Facebook, mas sim a de capturar as impressões emitidas (given) e transmitidas (given off), bem como a de comparar as impressões transmitidas com aquelas que os “amigos” efetivamente construíram acerca deles.


Relevância das Dimensões


Foram coletados dados a partir de 100 usuários do Facebook, durante 21 dias, resultando em 674 atualizações analisadas. Os resultados demonstraram que as dimensões propostas pelos autores capturaram as impressões da maioria dos status atualizados. Nesse sentido, tais dimensões mostraram-se relevantes, já que forneceram uma indicação inicial de que existe uma lacuna entre as impressões que as pessoas acreditam estar transmitindo e aquelas que eles formam acerca dos outros.


Alinhamento: Impressões Emitidas (Given) X Impressões Transmitidas (Given off)


Segundo os autores, o ponto principal da pesquisa era descobrir em que grau as impressões que as pessoas pensavam transmitir estavam alinhadas com as impressões que os outros efetivamente possuíam sobre eles. Para explorar tal questão, os pesquisadores compararam a categoria que os usuários atribuíram a eles próprios com aquela atribuída pelos outros acerca deles - para cada uma das cinco dimensões propostas. Em geral, a indicação é de que as pessoas geralmente obtêm sucesso ao projetar uma imagem positiva deles próprios, com exceção para a tendência de se apresentar como “engradecedor de si próprio”.


Conclusão


Barash, Ducheneaut, Isaacs e Bellotti concluem, neste paper, que essa análise inicial esclareceu algumas questões sobre o jogo de gerenciamento de impressões utilizado nas atualizações de status no Facebook. A predominância das dimensões “legal” e “divertido” sugere que esses são aspectos considerados importantes na construção da fachada nos sites de redes sociais. Os autores também concluem que enquanto os usuários dedicam-se a projetar uma imagem positiva deles próprios, subestimam certas atualizações que os fazem parecer “engrandecedores de si”. Por fim, os pesquisadores afirmam que, num mundo em que as pessoas constroem rápidas e duradouras impressões sobre os outros, os resultados mostram que os usuários, agora mais do que nunca, precisam encontrar uma coerência entre as impressões que eles emitem e aquelas que eles, inadvertidamente, transmitem.


FICHAMENTO - A framework for conceptualizing veracity in online dating self-presentations. (2011)

ELLISON, Nicole; HANCOCK, Jeffrey; TOMA, Catalina. Profile as promise: A framework for conceptualizing veracity in online dating self-presentations. 2011.


POR TARCÍZIO SILVA


Sobre os Autores:

- Nicole Ellison é professora associada do Departamento de Telecomunicações, Estudos de Informação e Mídia da Universidade de Michigan. Pesquisa ambientes digitais como sites de redes sociais, sites de encontro e buscadores. Seus trabalhos podem ser acessados em https://www.msu.edu/~nellison/pubs.html


- Jeffrey Hancock é professor associado da Cornell University. Pesquisa gerenciamento de impressões, relacionamentos interpessoais e estratégias deceptivas em ambientes digitais. http://communication.cals.cornell.edu/cals/comm/people/faculty-and-staff.cfm?netId=jth34


- Catalina Toma é professora da Universidade de Wisconsin-Madison. Pesquisa interações em sites de encontro. http://commarts.wisc.edu/directory/?person=ctoma


Objetivos do Artigo:


A proposta do artigo é analisar o processo de auto-apresentação de pessoas em sites de encontro. Tais ambientes, por visarem o estabelecimento de encontros afetivo-sexuais, possuem a particularidade de, idealmente, transpor as interações online a encontros face a face. Soma-se a isto as dinâmicas próprias de busca por parceiros, que envolvem a idealização de traços de si com objetivos de interessar a um possível parceiro. A partir dessas dinâmicas, os autores utilizam as perspectivas teóricas de interação hiperpessoal, proposta por Walther e colaboradores, e de common ground, proposta por Clark, para analisar como os perfis nestes sites são “perfis como promessas” (profile as promises).


Argumentação Central:


- Auto-Apresentação em Perfis


Perfis de Sites de Encontro


Os autores iniciam o trabalho realizando uma revisão do conceito de perfil em ambientes digitais. No caso específico de sites de encontro, citam trabalhos que mostraram como frequentemente uma leitura rápida dos perfis nestes sites é decisiva para uma pessoa ignorar ou acompanhar outro usuário.


Sobre a produção do perfil, são comuns “exageros” de características positivas. Tais exageros são constritos até certo ponto, pois os sites de encontro pressupõem e promovem a possibilidade de interação face a face. Dessa forma, essa antecipação de um encontro presencial cria uma tensão entre a honestidade completa e o prejuízo na iniciação de relações interpessoais.


Para entender como as pessoas e apresentam nestes ambientes, os autores vão utilizar o modelo hiperpessoal de interação, que leva em conta as propriedades dos ambientes digitais relativas ao canal e possibilidades de emissão e recepção. Proposto por Joseph Walther, este modelo dá conta das pistas reduzidas nos ambientes digitais, foco na interação textual e maior alocação de recursos cognitivos na construção das mensagens. Para entender os fatores contextuais, os autores citam o conceito de common ground proposto por Clark, que explica como os participantes de uma comunidade online desenvolvem e se baseiam em expectativas compartilhadas.


- Apresentação do Self em ambientes de pistas reduzidas


O modelo da interação hiperpessoal fala de auto-apresentação seletiva, conceito que bebe das teorias de auto-apresentação e gerenciamento de impressões. O modelo hiperpessoal mostra como, nos ambientes digitais, essa auto-apresentação se torna mais seletiva, uma vez que o usuário deve adicionar as informações sobre si, geralmente em inputs textuais. Assim, características simbólicas como aparência, gestualidade e outras não estão diretamente disponíveis aos interagentes. São mediadas pelos processos de auto-apresentação seletiva durante o preenchimento das informações dos perfis e nas trocas interacionais. No caso de características mais subjetivas, dois fatores podem promover um maior deslocamento entre a auto-apresentação e a percepção que o interagente pode fazer do indivíduo. O primeiro é a simples falta de auto-conhecimento e o segundo é o esforço em disfarçar traços negativos do self. No caso dos sites de encontros, ambos os fatores podem entrar em jogo.


- Assincronicidade e fatores temporais


Outra característica chave dos ambientes digitais, segundo o modelo de interação hiperpessoal, é assincronicidade. Existe um gap entre o momento de criação e preenchimento dos perfis e o possível encontro face a face com os interagentes nestes ambientes. Dessa forma, a aceitabilidade de discrepâncias pode emergir. Existe uma diferença entre o self ideal e o self real e os indivíduos tendem a se apresentar como o self ideal, que pode ter sido alcançado no passado ou ser um desejo futuro.


- Expectativas contextuais compartilhadas


Uma vez postos os fatores sociotécnicos, os autores vão tratar das normas sociais presentes nas comunidades online. A partir do conceito de communal common ground, de Clark, é possível entender como normas, procedimentos e léxicos são compartilhados pelos membros dos sites de encontro.


Trabalhos anteriores mostraram como os usuários destes sites levam em consideração a expectativa de que os outros exagerem algumas características e, por isso, fazem o mesmo. Não se trataria exatamente de “mentiras”, mas de idealizações esperadas.


- O estudo


A proposta do estudo é analisar como participantes de sites de encontro avaliam deturpações informacionais. A questão de pesquisa é: “como participantes de sites de encontro conceitualizam a aceitabilidade de discrepâncias entre a auto-apresentação no perfil e a presença off-line?”


- Métodos


Os participantes, nova-iorquinos, foram recrutados através do Village Voice e Craiglist. 37 foram entrevistados e 8 participaram do estudo geral, realizado na Universidade New School. Métodos qualitativos foram utilizados na entrevista, para entender a aceitabilidade dos usuários a diferentes tipos de distorção das informações.


A análise das respostas codificadas permitiu identificar categorias temáticas relacionadas ao gerenciamento de impressões, fotografias, aceitabilidade e definição de mentira. O tema do “perfil como promessa” emergiu nesta fase de análise.


- Descobertas


Deslocamento Temporal nos Perfis: assincronicidade ou licença para mentir?


A natureza temporal destes perfis digitais, que são representações de indivíduos vistas antes dos encontros face a face, mostrou-se relevante. Frequentemente os participantes do estudo citaram métodos de idealização do self de acordo com a imagem futura que projetam de si. Dessa forma, a efetivação de um encontro pode acontecer em um momento no qual os objetivos de ajuste do self tenham sido realizados.


A maleabilidade do traço idealizado também foi observada. Alguns tipos de traços são mais alcançáveis do que outros. Os percebidos como efetivamente maleáveis, modificáveis em curto período de tempo, foram vistos como traços mais abertos a idealização. Também foi observada a magnitude da idealização, uma vez que modificações exageradas dos traços foram mais vistas como inapropriadas.


- Pistas reduzidas: ter que falar ao invés de mostrar


Nos ambientes digitais, alguns fatores como corpo não são passivamente mostradas como no contexto face a face. No caso dos sites de encontro, alguns traços do tipo são explicitamente “ditos”. Em parte das casos, a falta de auto-conhecimento incorre em descrições de si imprecisas. Diversos participantes relataram estratégias de uso de ambiguidade, ao utilizar descrições médias ou padronizadas de si para evitar a precisão, que poderia explicitar traços não atrativos.


- Deturpações esperadas em contextos online


Em seguida, os autores falam sobre estratégias de idealização “que não fazem mal”. A comunidade se autorregula, estabelecendo práticas, expectativas e proibições tácitas.


- Debate


Framework do perfil como promessa


A ideia do “perfil como promessa”, para os autores, é um framework para o entendimento da auto-apresentação em sites de encontro. Os participantes observam um repositório mental de selves presentes, passados e futuros para construir as qualidades que querem expor online.


Para os autores, existe o “entendimento que o perfil constitui uma promessa feita para uma audiência imaginada e que a futura interação face a face acontecerá com alguém que não difere fundamentalmente da pessoa representada no perfil”. Dessa forma, esse perfil como promessa é um contrato psicológico entre os possíveis usuários do site.

Os autores listam três propriedades relevantes das promessas na construção dos perfis. Primeiro, as promessas não são enunciadas de forma explicita. Segundo, as promessas incorporam um aspecto de temporalidade, pois estão direcionadas ao futuro. Terceiro, promessas são tipicamente incompletas.


- Aplicando o framework do perfil como promessa aos dados das entrevistas


Os autores mostram como o conceito proposto permite entender a aceitabilidade de inexatidões na auto-apresentação online, uma vez que os participantes racionalizam os dados de acordo com a natureza temporal das promessas.


- Direções futuras e limitações


Em relação a pesquisas futuras, os autores indicam que a influência das dimensões temporais na avaliação da auto-apresentação online merecem ser investigados. Chamam a atenção para a análise destes processos em outros contextos assíncronos. Ainda oferecem como questões de pesquisas como os atos de criação de perfis afetam identidade, auto-estima e conhecimento de si. Por fim, alegam que a perspectiva hiperpessoal pode ser extendida ao adicionar dimensões contextuais. As limitações do estudo se referem especialmente a possíveis distorções do método e amostra.


- Conclusões


Os autores concluem revisando as duas linhas de pesquisa sobre ambientes digitais. De um lado, representado pelo trabalho de Walther, estão os trabalhos que analisaram fatores específicos das plataformas digitais. De outro, a pesquisa sobre comunidade online e desenvolvimento de relações interpessoais e intergrupais. Clamam pela integração destas duas abordagens, como no caso do presente estudo que procura levar em conta tanto os aparatos sociotécnicos quanto as regras e normas sociais ali desenvolvidas.