quinta-feira, 24 de novembro de 2011

FICHAMENTO - Presentation of Self: theory and methods. (2005)

BARNES, Susan. Presentation of Self: theory and methods. In BRAGA, A. (org.). CMC, Identidades e Gênero: teoria e método. Editora da UBI, Covilhã, 2005 (p. 59 - 88)

POR VITOR TORRES


Sobre a autora: Suzan Barnes é professora da College of Liberal Arts e dirige o Laboratório de Computação Social (Lab for Social Computing) do Rochester Institute of Technology – RIT, em Nova York, EUA.


Na internet as pessoas têm a oportunidade de criar versões idealizadas sobre si e até mesmo de criar novas identidades no momento em que se apresentam a outras pessoas. Barnes (2005) infere que o movimento de separação do corpo físico dos processos de comunicação, em ambientes online, além de dificultar para um ator que interage com outro através da internet a verificação do quão verdadeiras são as informações apresentadas pelo interagente no instante em que ele se apresenta, também faz emergir questões sobre identidade e auto-representação (self presentation), como, por exemplo, questionamentos que envolvem a emergência do cyberself, personalidades idealizadas (idealized personalities), presença virtual (net presence) e de representações deturpadas (misrepresentation).


Neste artigo, Susan Barnes (2005) busca entender quais são os efeitos que as interações através da Internet causam na formação da identidade de indivíduos que optam pela mediação do computador para se manifestar e conhecer outras pessoas. Num primeiro momento a autora fará uma revisão da literatura de teorias, conceitos e de formas de representação do Self em ambientes midiáticos já discutidos. Dando sequência, a autora trará alguns exemplos de como os indivíduos se aproveitam das especificidades da comunicação mediada pelo computador para alterar o modo como se representam. Neste ponto serão discutidas questões como anonimato, mau comportamento e representações deturpadas.

THEORIES ON SELF AND MEDIA ENVIRONMENTS


- Proximidade física, interacionismo simbólico e a consciência do ‘outro’: Historicamente, a proximidade física tem sido um importante aspecto da comunicação humana e influenciadora de teorias sobre a formação da identidade. Barnes (2005) cita Mead (1932, 1934) para relatar a importância que o processo do individuo em realizar que ele co-existe com outros indivíduos e objetos num mesmo ambiente tem para formação da identidade. A ciência de si e do ‘outro’ como partes fundamentais de um ambiente compartilhado é essencial para que uma pessoa se adapte a esse espaço. E essa consciência perpassa pelo processo de interacionismo simbólico. Citando Wood (1995), a autora infere que no modelo de interação simbólica, os interagentes interpretam mensagens baseados em seus “mundos individuais”, mas, a perspectiva do outro, assim como significações comuns, são extremamente importantes para a formação da identidade: To the extent that these worlds overlap (that is dual perspective), [communicators] will have relatively similar understandings and meanings. (WOOD, 1995, p; 27)


- As transformações nas tecnologias de comunicação e a metáfora de ambiente: Desde que a teoria de Mead (1932, 1934) foi desenvolvida, as tecnologias de comunicação passaram por relevantes mudanças e desenvolvimentos. E muitos indivíduos atualmente interagem através da mediação das tecnologias de comunicação. E muitos pesquisadores da área de estudos dos media - a autora cita Levinson (1997), Meyrowitz (1985), Postman (1992), Strate (1996) e Giese (1998) – pautados pelos conceitos propostos pelo interacionismo simbólico, propõe que a mudança do ‘meio como mensagem’ para os media como ambientes ajuda a compreender como essas tecnologias interferem diretamente no processo da percepção, sentimentos e valores humanos. A autora conclui que essa nova perspectiva “constitutes both a clarification and a correction of the perspective by changing the focus from the individual médium to the collective media environment” (BARNES & STRATE, 1996, p. 183). A Internet é muito mais um fenômeno cultural do que tecnológico.


- Como os media eletrônicos mudam a interação social: Meyrowitz (1985), antes da proliferação da Internet, afirmava que os media eletrônicos, como o telefone, o rádio e a televisão, possibilitavam que as pessoas se comunicassem através de grandes distâncias geográficas e criavam uma ‘não sensação de lugar’ (no sense of place). De acordo com o pesquisador as mensagens eletrônicas […] do not make social entrances; they steal into places like thieves in the nigth... Once a telephone, radio, or teevision is in the home, spatial isolation and guarding of entrances have no effect on information flow. (MEYROWITZ, 1984, p. 117)


Horton e Wohl (1956) sugerem que as pessoas desenvolvem uma relação especial com os profissionais que apresentam programas nos media de massa e que uma ilusão de interação face-a-face era criada na relação entre ‘comunicador’ e audiência. Os pesquisadores descrevem esse tipo de relação como uma parasocial interaction. Os profissionais dos mass media exploram justamente a sensação de intimidade com a audiência para simular uma interação face-a-face.


- A internet e um novo tipo de espaço social: A internet consolidou um novo tipo de espaço social onde os indivíduos constroem e mantém relações sociais A maior parte das interações mediadas pelo computador se consolida através da troca de mensagens textuais. Barnes (2005) cita a troca de emails como uma das principais formas de interação na internet e que, desde sua introdução, as pessoas alteraram a forma como usam a linguagem escrita quando buscavam inserir elementos não verbais em suas mensagens. Essa alteração de dinâmica era incentivada a partir da ‘falha’ que a comunicação escrita deixava em relação a outros tipos de comunicação, como a face-a-face. Essa alteração se dava a partir da inserção de símbolos no conteúdo das mensagens. Como um ambiente social, a internet se baseia em novas formas de interação simbólica para a apresentação e o desenvolvimento da self-identity.


CONCEPTS OF SELF AND THE INTERNET


- A substituição da presença física pela representação textual ou simbólica: Teorias sobre self-identity podem ser alocadas em duas grandes categorias: Uma que infere que o individuo possui uma identidade integrada, ou central e outra que aponta que os atores sociais possuem múltiplos selfs. Na internet, devido a separação do corpo físico dos processos de comunicação, a segunda categoria tende a ser melhor aceita. As pessoas podem se apresentar de variadas formas em diferentes redes na internet. A exposição a diferentes tipos de culturas e ideias possibilitada pela internet é outro fator que interfere no processo de construção da self-identity, podendo confundir ou ajudar o individuo no processo de construção identitária. Na internet, a representação social substitui a presença física. Stone (1991) observou que pessoas que se comunicavam através de espaços eletrônicos agiam como se estivessem presentes em um espaço físico.


- Discutindo a ideia de selfs múltiplos: Barnes (2005) cita Turkle (1995) e Poster (1990) como sendo pesquisadores que apóiam a noção de que na internet o individuo acaba construindo e mantendo múltiplos selfs. Quando as descrições textuais substituem a presença física, o self fica em um constante fluxo e os indivíduos não precisam mais se apoiar sob uma identidade única. Outra questão levantada diz respeito aos espaços colaborativos, onde o individuo perde um caráter de singularidade e esse espaço ‘multivocal’ passa a interferir no processo de manutenção de uma identidade.


- A conceituação de cyberself: O conceito de cyberself foi proposto por Waskul e Douglas (1997, p.375): “The cyberself is rooted in a unique formo f communication that is disembodied, dislocated, anonymous, multiple-simultaneous, and faceless”. Para os mesmos autores a internet providenciava a possibilidade de invenção de personalidades. Assim, ambientes midiáticos podem influenciar a formação de uma identidade tanto quanto espaços onde a interação face-a-face acontecem.


THE PRESENTATION OF SELF ON THE INTERNET


- As diferentes formas de apresentação na internet: Na internet o individuo encontra diferentes maneiras de se apresentar, sempre relacionado ao espaço online em que ele irá fazer essa apresentação. Os endereços de email, apelidos assumidos em chats, perfis profissionais em sites, entre outros, funcionam como um extensão de si próprio. Mais uma vez, Barnes discute sobre as motivações que a construção identitária carrega, assim como a liberdade de criação. Um ponto importante nesse processo de construção identitárias através destas diferentes maneiras está no limite. O exemplo dado é sobre a apresentação através de perfis profissionais ou institucionais. Muitas empresas, inclusive, assumem práticas de prevenção. Barnes infere que quando o individuo está em processo de construção identitária na internet, tanto fatores ‘reais’ quanto ‘imaginados’ são levados em consideração pelo interator. Isso dificulta a pessoa que ira receber as informações para identificar o outro.


IMPRESSIONS WE GIVE AND GIVE-OFF THROUGH THE INTERNET


- Pessoas sem rostos: Barnes (2005) cita Agre (1994) e credita a ele o termo net presence, que pode ser definida como uma identidade eletrônica que torna-se ciente por outros indivíduos que compartilham um mesmo ambiente digital. Essa consciência pode variar a partir da recepção do outro. Fatores como um contato face-a-face prévio influenciam nesse processo. O fato de se tornar consciente da presença do outaa pessoa somente através de um processo comunicacional online, principalmente através de trocas de textos, pode provocar impressões exageradas. Um resultado desse tipo de interação somente por troca de textos é que o outro pode formular impressões estereotipadas e idealizadas sobre o interagente. Esse tipo de impressão é o que sustenta a teoria de Walther (1996), onde o pesquisador apresenta o conceito Hyperpersonal Communication, que ocorreria quando a comunicação mediado por computador “is more socially desirable than we tend to experience in parallel face-to-face interaction”. (WALTHER, 1996, p.17)


REPRESENTATION AND MISBEHAVIOR


- A ênfase nos aspectos positivos: De um lado os interatores que recebem as mensagens podem idealizar o interator que encaminha as mensagens (como apresentado no tópico anterior). Do outro lado, alguns interatores podem falsear suas identidades. Alguns indivíduos podem fazer uma seleção de alguns aspectos positivos e dar ênfase nesses pontos na hora de uma apresentação virtual. Esse tipo de estratégia é difícil de ser identifica pelo interator que recebe as mensagens. Similar a esse processo, e pelo mesmo motivo de que as deturpações de identidade não são facilmente identificadas, está a ação de ‘mau comportamento’ em ambientes virtuais. A não responsabilização pelos atos influência alguns indivíduos a agirem desse modo. Barnes acredita que a possibilidade de anonimato inerente de ambientes online contribui para que maus comportamentos aconteçam na internet.


ANONYMITY


- Explorar a identidade através do anonimato: A possibilidade de anonimato na internet é apresentada por Barnes (2005) contento pontos positivos e nagativos quando relacionado a construção de identidade. Os pontos positivos são a liberdade de auto-expressão, a possibilidade de criar uma ilusão compartilhada sobre uma ‘persona’ online e também, de acordo com Turkle (1995), o anonimato pode auxiliar no processo de exploração da identidade ‘real’, através de comunidades ou fóruns onde não é preciso se identificar. Porém, como ponto negativo, o anonimato também possibilita o que a autora classifica como misrepresentation.


CONCLUSÃO


Pesquisadores ainda estão incertos sobre os efeitos que as interações na internet podem ter sobre a formação de identidade. Alguns acreditam que esse tipo de interação mediada pelo computador pode ser benéfico, pois possibilita o individuo experimentações sem conseqüência no ‘mundo real’. Por outro lado há aqueles que argumentam que essas representações do self de forma fragmentada, muito comum em ambientes digitais, podem dificultar o individuo no reconhecimento de crenças e valores. Até então, aspectos positivos e negativos têm sido apresentados por pesquisadores.


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