BARNES, Susan. Computer-mediated communication: Human-to-Human communication across the internet. Boston, MA: Pearson Education, Inc. 2003 (p. 136 a 159)
FICHAMENTO REALIZADO POR THAIS MIRANDA
Sobre a autora: Suzan B. Barnes é professora da College of Liberal Arts e dirige o Laboratório de Computação Social (Lab for Social Computing) do Rochester Institute of Technology – RIT, em Nova York, EUA. Nos últimos quinze anos, Barnes dedica-se a pesquisas que envolvam relações interpessoais na internet, mídias sociais, comunicação visual e temas afins. Interessa-se, especialmente, por investigar como as tecnologias digitais fazem como que os indivíduos compartilhem, uns com os outros, pensamentos, ideias, fotografias e sentimentos. Barnes é autora de diversos artigos e dos seguintes livros: Computer-Mediated-Communication: Human-to-Human Communication Across the Internet (Allyn & Bacon, 2003); Web Research: Selecting, Evaluating & Citing with M. L. Radford & L.R. Barr (Allyn & Bacon, 2002) e Internet Interpersonal Communication (Hampton Press, 2001).
Objetivos do capítulo: Discutir e analisar as relações interpessoais na Internet, a partir das seguintes questões: (1) Razões que levam as pessoas a se envolverem em relações pela Internet; (2) Relações de intimidade, sociais e profissionais; (3) Critérios de análise para estudar relacionamentos na Internet e; (4) Gerenciamento de Impressões e construção das relações online.
Argumentação Central:
Motivos para as interações online
Para a autora, as pessoas usam a Internet devido a três razões principais: (1) comunicação interpessoal, (2) busca de informações e (3) diversão/entretenimento.
Entretanto, Barnes argumenta que o uso da Internet para a manutenção ou construção de relacionamentos (pessoais ou profissionais) é a motivação principal dos indivíduos. Dentre as razões citadas, a autora destaca também o surgimento dos chamados “grupos de apoio” (support groups), em que as pessoas trocam, através da Internet, informações sobre problemas de saúde, familiares e emocionais.
O uso social da Internet é um aspecto ressaltado por Barnes.
Para ela, existem diversas razões (sociais) que levam os usuários a trocarem mensagens na rede: compartilhamento de informações, engajamento em debates online, perguntas e respostas, flertes, contatos sociais, jogos e defesa de posições políticas. A busca por prazer e satisfação pessoal aparece como o motivo principal de acesso à Rede, em estudo realizado com cem pessoas, em Pittsburgh, pela HomeNet Study.
Relacionamentos Online
Segundo a autora, de maneira parecida com o contexto face a face, a comunicação mediada por computadores (CMC) permite que duas pessoas desenvolvam um relacionamento online. E-mail, chat e mensagens instantâneas são as ferramentas destacadas, com tal objetivo.
Barnes cita um estudo realizado por Parks e Floyd (1996), cuja conclusão é que o motivo comum para se iniciar relacionamentos online é a busca por pessoas do sexo oposto.
Nesse sentido, ao discutir as relações de intimidade, Barnes destaca a popularidade dos sites direcionados aos “encontros virtuais” e afirma que transformar relacionamentos da Internet em relações “reais” pode ser difícil, já que as imagens românticas criadas na Internet podem ser construídas mais com base em fantasias, do que em realidade.
Outra questão apontada é que os “encontros online” podem ser uma forma de conhecer melhor as pessoas: a eliminação de aparência física e de gestos contribui para um melhor aprendizado dos pensamentos e interesses mais profundos do parceiro. As duas vantagens desse tipo de relacionamento, destacadas pela autora, são: (1) possibilidade de construir relações ao longo do tempo, com mais tempo e (2) a eliminação de informações não-verbais disruptivas. A desvantagem seria, por outro lado, a decepção advinda pelas falsas descrições.
Ainda sobre as relações de intimidade, Barnes enfatiza o cibersexo como a interação online mais íntima de todas, definindo-a como uma troca de mensagens sobre sexo, através da Internet. Para a autora, a maioria das pessoas pratica cibersexo por diversão, não usam seus nomes reais e a troca inocente de fantasias pode levar a relações mais sérias. Para além das trocas de mensagens sobre sexo, Barnes afirma que as pessoas revelam informações sexuais, de maneira explícita, na Internet.
Um estudo realizado por Witmer (1997) revela que os usuários não acreditam que mensagens sexuais trocadas na Rede podem afetar suas carreiras e se sentem seguros postando informações “arriscadas”. 47% dos participantes percebem a Internet como um meio privado.
Barnes conclui alertando que os usuários desse tipo de prática precisam estar atentos para o fato de que as mensagens trocadas ali podem ser acessadas por terceiros, como sistemas administrativos, por exemplo.
Sobre os relacionamentos sociais, o texto destaca que a CMC está se tornando uma outra forma de encontrar pessoas, fazer amigos e interagir socialmente. As comunidades virtuais são enfatizadas pela sua capacidade de proporcionar encontros entre pessoas com interesses afins e, com frequência, amizades se constituem a partir dali.
Segundo a autora, uma vantagem desse tipo de comunidade é a possibilidade das pessoas manterem suas conexões, mesmo que mudem de emprego ou para cidades diferentes.
Quanto às relações em ambientes de trabalho (task-oriented relationships), é destacado o uso do e-mail como ferramenta principal de comunicação organizacional. A autora apresenta resultados de uma pesquisa realizada por Rice e Love (1987), em que foi examinado o conteúdo dos e-mails, nesses ambientes. A conclusão foi a de que existe um conteúdo socioemocional nessas mensagens, especialmente naquelas elaboradas por usuários habituados à CMC.
Desenvolvimento de Relações Online
No que diz respeito às constituições dos relacionamentos online, Barnes afirma que, diferentemente das relações face a face, que se desenvolvem mais por conta da proximidade e atração, os relacionamentos online partem de interesses comuns. Além disso, a autora pontua que alguns estudos indicam que, nas relações online, as pessoas tendem a ser mais estruturadas e organizadas, bem como menos espontâneas. Pesquisa feita por Wallace (1999) mostra que na rede, os indivíduos tendem a ser menos performáticos, no que se refere às pequenas civilidades das interações face a face. O fracasso da civilização digital impulsiona, segundo a autora, o comportamento conhecido como “flaming” – falar negativamente e continuamente sobre alguém ou sobre algum assunto. Como forma de evitar o flaming, Barnes sugere que os indivíduos evitem os conflitos, ou os conduzam com palavras pouco agressivas, já que estas, bem como o estilo de escrever de cada um, são importantes estratégias de apresentação online.
Critérios/Métodos para análise das relações interpessoais mediadas por computador
Barnes explica que o método de análise da retórica pode ser aplicado nas relações interpessoais digitais, já que, efetivamente, é através das palavras que estas são construídas. Para a autora, estudar as relações interpessoais na internet é mais fácil do que investigar as relações face a face, porque naquelas é possível fazer um registro e posteriormente analisá-las, em detalhes. Em resumo, os seis critérios apontados pela autora, que podem ser utilizados nas análises retóricas das interações online são: (1) experiência comum compartilhada, (2) segurança e satisfação, (3) entendendo o outro, (4) performance, (5) reciprocidade e (6) benefícios.
Um outro elemento trazido pela autora é que as relações online demoram mais para serem construídas (relationship built over time) do que as face a face, já que o “tempo real” de trocas de e-mails é mais lento que o tempo das interações mediante presença física. Esse aspecto, dentre outros, faz parte daquilo que Barnes denomina como
Processamento de Informação Social (Social Information Processing- SIP).
Já mencionando os seis critérios citados anteriormente, a autora enfatiza que para que um relacionamento se estabeleça, através da experiência compartilhada, é preciso que as partes envolvidas compreendam o contexto em que estão inseridas. Segundo ela, quando as relações do tipo CMC são estabelecidas como um complemento das relações face a face, normalmente isso acontece com facilidade.
Entretanto, quando um indivíduo ingressa numa lista de discussão, por exemplo, ele pode não entender seu funcionamento e dificultar a construção da relação.
Sobre a segurança nas relações online, Barnes reitera a importância das partes sentirem-se seguras naquele relacionamento. Além disso, por conta do caráter interativo do meio, segundo a autora, esse tipo de relação fornece uma satisfação aos indivíduos porque personaliza as informações, gerando uma sensação de presença social.
Apesar da confusão sobre a questão do que é público e do que é privado, ainda assim as relações online promovem satisfação pessoal, já que indivíduos mais reticentes costumam sentir-se mais seguros para expressar aquilo que sentem.
Diferentemente dos encontros face a face, nas relações online as pessoas não conseguem, com facilidade, se colocar no lugar do outro e a “primeira impressão”, na Internet, pode ser errônea. Barnes ressalta que as interações não são espontâneas e que as pessoas podem, cuidadosamente, articular as mensagens de forma a criar a “impressão adequada”. Logo, a criação de papeis/performance (role play) é importante no desenvolvimento dessas relações. Barnes afirma que papeis criados nas relações face a face são comumente transferidos para as relações online. Entretanto, também se faz necessário comunicar, claramente, os papeis assumidos.
Sobre a reciprocidade, elemento indispensável nas relações online e offline, Barnes explica que responder às mensagens é o primeiro passo para a construção das relações na Internet. Nesse sentido, a autora explica que quando um interator faz um comentário constrangedor, muitas pessoas costumam responder com o silêncio.
Ignorar comentários é uma maneira fácil de lidar com mensagens e comportamentos inapropriados. Entretanto, o silêncio pode ser usado como uma estratégia de “evitação”.
Não responder às mensagens pode levar ao fim das relações online.
Modelo de Gerenciamento de Impressão – CMC
Barnes apresenta um modelo de gerenciamento de impressão para a CMC, proposto por O´Sullivan (2000).
Segundo este modelo, que incorpora elementos do interacionismo simbólico e da teoria da “representação do eu”, trazida por Goffman, os canais de comunicação mediada são usados como ferramentas de gerenciamento das informações relevantes que os indivíduos desejam apresentar, acerca deles próprios. Nesse sentido, os indivíduos desenvolvem estratégias de comunicação para gerenciar as suas maneiras de se mostrar para os parceiros-interatores. A falta de aspectos/informações visuais, nesse caso, pode ser vista com uma oportunidade de regulação das informações entre as partes. Novos elementos, entretanto, são incorporados ao modelo, tais como os aspectos gráficos em geral, estilo de escrever e o uso dos acrônimos.