SCHLENKER, Barry. Self-Presentation. In LEARY, Mark.; TANGNEY, June. Handbook of Self and Identity. The Guilford Press, New York, 2003. (p. 492 – 518)
POR FERNANDA BETTIO PIGEARD
Sobre o autor
Barry Schlenker é Ph.D. em Psicologia pela State University of New York at Albany (1972) e professor emérito do Departamento de Psicologia da Universidade da Flórida. Seus interesses como pesquisador se concentram no gerenciamento de impressão e self-presentation, integridade e identidade moral, self e identidade, influência social, poder e persuasão e responsabilidade pessoal. Tem uma vasta produção acadêmica com inúmeras publicações além de uma sólida carreira chegando à Diretoria do Programa de Psicologia Social da Universidade da Flórida por quatro mandatos. Seu endereço de e-mail é schlenkr@ufl.edu
Objetivos
Definir a auto-apresentação (self-presentation) e levantar aspectos principais que estão envolvidos neste processo.
Argumentação Central
O autor estuda a auto-apresentação, neste capítulo, sob dois aspectos: como as pessoas buscam dar forma as suas atitudes e comportamentos nas interações sociais através da apresentação de informações que consideram relevantes de si e como as outras, alvos da auto-apresentação, respondem a isso.
Para tanto, ele inicia o estudo definindo a auto-apresentação como a tentativa do indivíduo em controlar suas impressões diante de um outro (platéia, entidades etc) e, declarando não ser possível cobrir o assunto em sua totalidade, busca explorar alguns temas centrais que são objetos de pesquisas nesta área. Em cada item trabalhado pelo autor, ele relata resultados dessas pesquisas que embasam suas afirmações.
Sobre autenticidade
- Embora a auto-apresentação envolva “jogos humanos” onde uns buscam convencer outros sobre suas imagens, isso não significa dizer que se trata de algo superficial, enganoso ou manipulador uma vez que a tentativa de mostrar ao outro um “retrato” de si, esta será uma tentativa de mostrar algo que acredita ser verdadeiro a seu respeito.
- A auto-apresentação pode ser motivada por objetivos diversos e, para isso, envolve o condicionamento da informação para a efetivação do objetivo a que o indivíduo se pretende e, dentre eles, pode-se incluir a transmissão de um autêntico “retrato” do self. Assim sendo, assegurar um feedback que valide a impressão que o indivíduo tem de si mesmo é parte do jogo.
- A auto-apresentação distingue-se de outros comportamentos pela importância que é dada às reações imediatas ou antecipadas que irão influenciar a comunicação das informações sobre o self.
- Distingue-se a auto-expressão da auto-apresentação, sendo àquela espontânea, autêntica e intrínseca ao indivíduo enquanto que esta é inautêntica, elaborada e influenciada por circunstâncias sociais extrínsecas ao ator.
Sobre controle e automaticidade
- A auto-apresentação varia como controlada ou automática conforme o nível de consciência e processos cognitivos envolvidos.
- Processos cognitivos estarão presentes quando o indivíduo está motivado por uma meta ou quando está diante de determinados tipos de audiências que sejam significantes para ele e que, por isso, buscará obter controle sobre as impressões que deseja causar, enquanto que processos automáticos de auto-apresentação se mostram em atividades que envolvam coisas familiares, rotinas, scripts ou comportamentos aprendidos as quais, por não apresentarem metas específicas ou por serem contextos conhecidos, dispensam controle e pouco envolvem processos conscientes já que não estimulam no ator uma preocupação maior em causar boa impressão.
Sobre configuração
- A auto-apresentação é uma atividade modulada pela combinação da personalidade do indivíduo, pela situação e pelos fatores da audiência. É a transição entre o self e o público num contexto social particular que dependerá dos objetivos envolvidos e do grau de relevância (razão, tamanho etc) da platéia.
Sobre construção de uma identidade e auto-apresentação desejadas
- Considera-se o reforçamento da auto-estima como principal fator motivador da auto-apresentação, por isso o indivíduo busca garantir uma auto-imagem positiva e socialmente desejada perante os demais.
- Outro foco da auto-apresentação está em reforçar a consistência interna do indivíduo de forma que os outros confirmem importantes crenças que o ator tem de si mesmo, por isso serão empreendidos esforços cognitivos tantos quantos forem necessários para este fim: manutenção da identidade.
- A auto-apresentação vista como uma transação mais do que uma expressão do self, ou seja, diante da mudança do foco de atenção do indivíduo para a relação dele com a platéia enfatiza-se que sua motivação está em usar a auto-apresentação com foco em aumentar a probabilidade de uma conseqüência benéfica conforme objetivos que estejam em voga e se mostrar verdadeiro para angariar a credibilidade da platéia. Por essas razões, estudos evidenciam que o indivíduo altera sua auto-apresentação para melhorar suas possibilidades de atingir o objetivo desejado.
- Auto-apresentação produz obrigação da pessoa ser o que ela diz ser, sob o risco de sofrer sanções pessoais e interpessoais de forma que o indivíduo busque apresentar informações de si que seja capaz de manter.
- Não existe constância nem linearidade no estabelecimento de uma imagem particular do self já que inúmeros são os fatores que modificam a auto-apresentação para que se torne apropriada conforme o contexto.
Sobre o que é público que se torna privado
- Assim como enfatiza Mead (1934) e Cooley (1902) no interacionismo simbólico, existe um intercâmbio entre o self público e o privado. Se o self é construído a partir da interação social através da internalização de papéis pelo sujeito e da reação dos demais em relação ao exercício desses papéis, então as estratégias de auto-apresentação podem influenciar a maneira como o indivíduo se vê no privado.
- Dependendo da representatividade que o indivíduo obtenha em sua auto-apresentação em termos da aprovação e aceitação por parte dos outros, ele poderá mudar suas crenças e conceitos acerca de si próprio.
Sobre influência das audiências na performance
- O comportamento social realiza-se no contexto real ou imaginário das audiências cuja existência e reações (reais ou antecipadas) influenciam o ator em seus pensamentos, sentimentos e conduta. Daí surge a idéia da auto-regulação que se dá através da capacidade do indivíduo em se colocar no lugar do outro, antecipar suas reações ou possíveis ações e a partir daí conduzir sua auto-apresentação levando em consideração esses elementos. Por exemplo: pessoas modificam suas expressões verbais e não verbais conforme características particulares da audiência. Assim, diferentes tipos de audiência estimularão diferentes metas e relevantes imagens da identidade do ator.
Sobre orientações intrínsecas e extrínsecas
- A auto-apresentação parece ser guiada ora pela pressão das audiências e contextos sociais (orientações extrínsecas) ora por valores e crenças do indivíduo (orientações intrínsecas) podendo ocorrer, ambas, concomitantemente.
- As orientações extrínsecas e intrínsecas estão vinculadas, respectivamente, a autoconsciência pública e/ou privada que o indivíduo apresenta e, independente de qual seja, as audiências irão influenciar na auto-apresentação deste por razões distintas.
Sobre problemas na auto-apresentação
- Pessoas orientadas em sua auto-apresentação por fatores externos imediatos colocam em risco sua saúde, pois farão o que for necessário para obter aprovação e aceitação por parte dos outros chegando a ignorar seus princípios e bom senso. O contrário, pessoas orientadas exclusivamente por seus princípios e crenças, também terão distorções em suas interações sociais, pois se mostrarão egocêntricas e excêntricas. Considera-se que o balanceamento entre essas duas orientações garante uma maior eficácia nas relações sociais.
Sobre o grau de efetividade da auto-apresentação
- Pessoas podem assumir condutas e imagens enganosas em suas auto-apresentações, o que apesar de parecer condenável, pode ser entendido como algo necessário para manutenção da harmonia das relações interpessoais. Ressalta-se, porém, que manter imagens enganosas por longos períodos é uma tarefa de difícil execução.
- Auto-apresentações se mostram efetivas quando as pessoas estão motivadas em causar uma boa impressão nas audiências e quando estão confiantes de que podem fazê-lo. O grau de variação dessas motivações influencia diretamente na efetividade da auto-apresentação.
- Em situações que as pessoas se encontrem em ter suas identidades ameaçadas por razão de um erro ou incidente não previsto em suas auto-apresentações, elas buscarão remediar através de estratégias de evitação de responsabilidade, defesa da inocência, desculpas e justificativas.
Sobre o trabalho conjunto das pessoas para manterem suas identidades reciprocamente
- Quando as pessoas se configuram como um time, a auto-apresentação de uma está diretamente implicada na identidade da outra de forma que o cuidado em proteger e construir suas identidades reciprocamente será uma meta comum a todos. Goffman (1967) postula duas regras necessárias para esse fim: o auto-respeito (integridade da pessoa com ela mesma) e a consideração (integridade da pessoa com o outro).
- Dar suporte a identidade do outro, significa ter a sua própria identidade protegida, principalmente, nas relações de maior proximidade ou representatividade do indivíduo.
- O gerenciamento de impressão é como as pessoas controlam estrategicamente informações em suas rotinas e que é motivado por diversas razões, algumas socialmente benéficas.
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